Objetivos
O Programa em Literatura e Interculturalidade (PPGLI), constituído pelos cursos de Mestrado e Doutorado, amplia e aprofunda, após o credenciamento de funcionamento do doutorado, seus objetivos anunciados no coleta CAPES do último triênio, a saber:
a) ampliação da presença do PPGLI acompanhando a política de desenvolvimento da UEPB nos últimos anos, caracterizada por uma estratégia voltada para o desenvolvimento regional, tendo como resultado, para o PPGLI, a presença de discentes oriundos dos diferentes Campi e regiões do nordeste;
b) fortalecimento do ensino de pós-graduação e da pesquisa, o que inclui, ao lado da ampliação do número de cursos de pós-graduação, o fortalecimento do nosso mestrado e o pleno funcionamento do doutorado, com o objetivo de consolidar este curso até a conclusão da primeira turma;
c) qualificação no enfrentamento teórico, por meio de melhor articulação de suas linhas de pesquisa e da produção decorrente dos projetos e dos grupos de pesquisa de Programa. Inserido em uma região cuja demanda por pós-graduação em nível de mestrado e doutorado ainda é significativa, não somente quando comparado a outras regiões do Brasil e do mundo, mas na relação que estabelece com a sociedade naquilo que ela tem conseguido avançar em termos de educação universitária.
Seja devido ao baixo número de programas de pós-graduação no contexto paraibano e em seu entorno, seja pela produção acadêmica que tem fortes aspirações ao desenvolvimento expressivo, o PPGLI tem como um dos seus principais objetivos capacitar pesquisadores e profissionais de Letras e áreas afins munidos de uma concepção pautada no estudo das relações de diálogo entre a literatura e a diversidade de culturas, diferenciando-se positivamente dos demais Cursos de pós-graduação em Letras da região por trazer à tona uma abordagem da literatura em diálogo com suas interfaces, com as culturas e os bens simbólicos e materiais. Numa perspectiva a um só tempo aberta e singular, o Programa compreende a literatura como indissociável das produções humanas como um todo em suas matrizes sociais, culturais, antropológicas; singular porque não obstante não abrir mão de uma consciência aguda das especificidades da literatura enquanto gênero do discurso e campo do saber, não se confina a uma visão excessivamente formalista ou funcionalista do texto literário, antes o conecta às demais produções artístico-culturais modernas e contemporâneas, cinema, música popular, religião, tradições orais, dentre outros, o que faz do texto do literário uma instância do fazer cultural, ao mesmo tempo em que interpreta e se constitui a partir da complexidade cultural.
As relações entre literatura, minorias e cidadania cultural e social, assim como entre literatura e diferentes abordagens dos estudos culturais, levando-se em conta as técnicas e tecnologias que envolvem cada objeto de pesquisa, por exemplo, são marcas fortes do projeto do PPGLI. Estes aspectos encontram sua expressão nos cursos de Mestrado e de Doutorado em Literatura e Interculturalidade por representar a continuação do trabalho de anos que vem sendo feito pelo Departamento de Letras, com larga experiência em projetos de iniciação científica e especializações lato sensu, e, nos últimos 3 anos, com a consolidação do Mestrado em Literatura e Interculturalidade e a abertura do Doutorado, além de representar uma concepção de fortalecimento acadêmico da UEPB, que, nos últimos anos, contou com um claro crescimento da pós-graduação e da pesquisa em diferentes áreas do conhecimento. Por um lado, o Departamento de Letras assumiu uma tarefa vanguardista em não somente propor o mestrado, mas um curso com um perfil que, ao mesmo tempo em que mantem sua pertença aos campos da teoria literária, se abre a interpretações da literatura que extrapolam a própria circunscrição do texto em seu sentido tradicional.
Justamente por ter na literatura o foco de seu trabalho, o PPGLI acompanhou os desenvolvimentos da compreensão do lugar da literatura, para além dos cânones e das manifestações sedimentadas do texto literário, isto significou uma abertura teórica no diálogo com os estudos culturais, encontrando sua sistematização e circunscrição nas linhas de pesquisa do Programa.
O PPGLI entendido, em grande parte, como fruto da experiência acumulada pelo Mestrado em Literatura e Interculturalidade nos últimos anos e com o início do Doutorado, tem um corpo docente que empreende a busca por projetos de pesquisa que situem a região Nordeste numa relação crítica, ética e estética com as demais regiões do Brasil e alhures a fim de construirmos as bases sólidas não só para um conceito de região que ultrapasse o provincianismo, tão comum tanto nas abordagens do Nordeste brasileiro, mas, sobretudo, para uma compreensão de nossas especificidades, de nossas carências e de nossas potencialidades, que nascem e se articulam numa região, mas que encontram no diálogo com outros contextos acadêmicos um caminho para as interpretações que fazemos em nossa especificidade. O resultado desta criativa relação entre os territórios, de nosso contexto imediato e de outros contextos, acontece, num primeiro plano, pelo próprio objeto de nossas investigações, justamente pela possibilidade da literatura articular uma grande complexidade de realidades culturais, sociais, políticas e intersubjetivas, mas também pela abertura que acontece em nosso Programa a partir do trabalho teórico realizado nos grupos de pesquisa, nas linhas de pesquisa e em nossas dissertações e projetos de tese. O resultado deste esforço apresenta egressos do PPGLI que atuam como pesquisadores, docentes e assessores em diferentes lugares da região nordeste e norte.
Sabemos que países e regiões são, sem dúvida, circunscritos por fronteiras. Dentro dessas fronteiras predominam códigos e normas, maneiras de ser, de perceber, de se relacionar e de fazer, que consistem naquilo que a antropologia denomina cultura. Esta cultura está de fato no plural, se consideramos a face heterogênea dos elementos integradores de sua definição. Está também numa interculturalidade, pelo fato mesmo desta heterogeneidade se deslocar de sua fronteira externa (inter-nacional) para suas fronteiras internas (intra-nacionais), o que pode ser esboçado num paradigma da tradução operando 1) a nível externo, entre línguas-símbolos de outras tantas culturas, cada qual de dupla vertente (a antropológica e a cognitiva), 2) a nível interno, entre regiões e suas respectivas tradições, sempre crioulizadas e mestiças, similarmente ao grande todo heterogêneo das nações modernas. As regiões e as nações estão assim em relação analógica ao melting-pot das grandes cidades, mas também das cidades não tão grandes, todas multiculturais e à espera dos mediadores poliglotas capazes de agir em qualidades de interculturalizadores entre diversas instâncias constituintes das regiões e nações, dos hemisférios e continentes.
A abertura na abordagem do fenômeno literário a que se tem chamado atenção pauta-se também no fato de o corpo docente do PPGLI ser oriundo de várias instituições brasileiras e estrangeiras (Warwick University, Université Laval, Johannes Gutenberg Universität, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Metodista de São Paulo, University of Nottihgham, Universität Hamburg). Ou seja, no PPGLI, intercultural não é só a perspectiva dos Cursos, ela é baseada também na formação de seu corpo docente.A interculturalidade não é aqui fator externo ou de busca, ela é constitutiva.
Falando de interculturalizadores estamos nos referindo globalmente a respeito de certas categorias de pessoas dedicadas a pesquisar os fenômenos culturais com o intuito de intervir no campo cultural por determinadas ações educativas e técnico-científicas de acordo com as necessidades próprias das regiões onde atuam, no nosso caso tendo por base a literatura e a arte. Isto inclui a perspectiva de que na obra artístico-literária encontramos a base para refletir sobre a transição entre a ação cultural de caráter político no sentido estreito e a ação político-literária dos profissionais das letras, artes e áreas afins em nossas universidades do Nordeste.
Se no PPGLI, o pivô dos projetos e do curso são a literatura e a arte, é que o imaginário próprio da literatura e da arte elege domicilio em todos os lugares: aqui e em outras regiões do Brasil, em países da América latina, do Caribe, da América do norte, da África e da Europa. Partimos do princípio, portanto, que nas obras artístico-literárias se manifestam diversas faces de gestação do imaginário criador, ao mesmo tempo em que a literatura se constitui na manifestação crítica dos esquecimentos planejados, das vozes negadas social e politicamente, das opressões como aspectos ainda definidores da realidade social brasileira. Se, por um lado, a literatura se alimenta do imaginário criativo, também se constitui do compromisso com o não-esquecimento, e este compromisso é sempre carregado de denúncia e anúncio.
O PPGLI é o único Programa com Curso de Mestrado e Doutorado em estudos literários no Nordeste num raio de 1.000 kms, todos os demais cursos são de programas mistos. Por isso, ao articular o seu projeto nesta ausência, mas também com o esforço teórico aqui realizado, o PPGLI procura garantir a extrema relevância ne seus cursos para a região Nordeste; atesta isso também a mais de uma centena de projetos inscritos a cada nova seleção do Mestrado em Literatura e interculturalidade e os mais de 600 inscritos que têm participado em média dos eventos organizados por ele, além da inserção tão imediata quanto possível dos egressos do PPGLI em outras IES como docentes, sem deixar de mencionar a interlocução que o PPGLI estabelece com a Área, seja pela participação em eventos seja pela capacidade do PPGLI realizar eventos de maior alcance, como será o caso da ABRALIC em 2013. A procura pelo PPGLI, tanto no mestrado quanto no doutorado, revela uma demanda por formação que contempla o foco acima brevemente descrito.
A pertinência regional do PPGLI e de seu projeto político pedagógico está atrelada ao fato de no Nordeste, onde no Brasil a má distribuição das tecnologias e dos bens simbólicos é ainda mais acentuada, os Cursos do PPGLI fundamentarem uma atitude perante a literatura e a arte e, por extensão, perante a cultura, que consegue dialogar tanto com as especificidades regionais quanto com as relações intercontinentais e, quiçá, contribuir para a superação de suas desigualdades rumo a um Brasil mais paritário e efetivamente democrático, daí a prevalência dada pelo PPGLI a temas e grupos considerados marginais, partindo do pressuposto que esta prevalência e este compromisso nascem na própria literatura.
Para dar conta desta gestação é importante retomar a idéia de uma poética, base para o desenvolvimento de pesquisas de ponta que tenham a literatura e a arte como fonte e corpus primeiro. Uma poética deslocará as ideias admitidas. Sem serem totalmente rejeitadas, elas recebem corretivos, são remexidas, sacudidas em seus pressupostos. O imaginário do fora da obra, cujos mitos já gramaticalizados tendem a se racionalizar e a se tornar doxa, sofre alterações e passa por uma nova gestação. Nesta ocorre uma des-mitologização, precursora de uma re-mitologização. Eis o que chamamos no PPGLI de política literária e de política da arte, que não reduzimos a um engajamento político estreito. Essa política de sentido, irmã siamesa da inovação, atinge quase todas as identidades referenciais e, na trama da “identidade narrativa”, a identidade dos narradores, dos personagens e dos leitores. O discurso “poético” (ou criador) é a fonte da pedra filosofal que se materializa na obra de arte. Para além do processo de transmutação do chumbo da vida em ouro semântico, uma multidão de ontologias e de práxis em estado de virtualidade, pré-percepção, sobem ao patamar da linguagem, tornam-se aspectos, qualidades, valores, enfim, realidades novas e potenciais. Tal é a demiurgia da expressão literária que constitui uma obra. É pela indagação que uma poética faculta em tais obras mediante projetos de tese e dissertações, discussões em salas de aula, transações intelectuais, no plano local, regional, nacional e internacional, que o PPGLI ambiciona promover avanços sobre questões cruciais do humano e da sociedade contemporânea no Nordeste e alhures.
Partindo da cosmovisão do mundo alternativo, da política de sentido e das identidades instauradas polissemicamente pela literatura e pela arte, professores, pesquisadores, doutorandos e mestrandos estão pesquisando a partir da relação cultura, arte, literatura, pois estas oferecem uma possibilidade de leitura incomparável no mundo de hoje para interrogar as múltiplas formas de vida das coletividades humanas e, segundo Pierre Bayard (2004), “a literatura é um carrefour de saberes disciplinares”. É bem o que igualmente nos ensina a epistemocrítica e a grande tradição de mediação da literatura comparada entre as culturas disciplinares e as culturas antropológicas.
Para o nosso projeto, a cultura, em seu aspecto cognitivo e antropológico, é sem nenhuma dúvida um agente de mediação entre as diferenças, mesmo se o diálogo mediador se revele tenso, difícil. Por um ou outro ponto de sua efetividade ou virtualidade, por sua feição objetiva, uma obra proporciona questionamento comum sobra o ser humano, a vida, a sociedade, porque é aquilo que nos eleva acima de nossa contingência, de nosso isolamento de sujeito, e nos instala na intersubjetividade. A obra faz mundo (kosmos), potencializa um sensus comunis, nos coloca num ambiente onde o regional está englobado no nacional sem perder a sua identidade, e onde o nacional está ligado à sulamericanidade, e esta a alhures, em que os continentes se banham numa cultura-mundo e num ininterrupto diálogo via literatura e arte.
A vocação do PPGLI se situa a este nível plural e relacional, sem deixar de ser regional, pois não existe uma proposta de conjunto na Região Nordeste que, sistematicamente, focalize a atenção de discentes e docentes quanto à necessidade histórica, cívica e ética de uma mobilização intelectual em larga escala, em torno de uma cultura nacional que faça dialogar interculturalmente, via literatura, o popular e o erudito, a produção literária de/sobre minorias, pessoas que sofrem de alguma forma de exclusão social e que, contudo, escrevem ou se expressam com uma finalidade estética sui generis. Estamos formando professores e pesquisadores que expandam o conhecimento das identidades e dos encontros interculturais, trazendo assim uma significativa contribuição para o desenvolvimento regional e nacional.
Um dos objetivos desse projeto é atender às necessidades de uma grande quantidade de educadores que não têm acesso à pesquisa de ponta na região nordeste em literatura e arte que articule as especificidades da região a uma visão não provinciana de arte e cultura. Como foi dito anteriormente, há uma necessidade histórica por estudos relacionados a minorias e a um olhar menos formalista do texto artístico-literário que o vincule às especificidades e diferenças regionais, bem como, em virtude de não termos na região programas voltados para a literatura numa perspectiva intercultural, forme pesquisadores e professores de ponta capazes de suprir uma demanda enorme em Universidades e Escolas de ensino médio e fundamental, públicas e privadas.
Nossos objetivos específicos são:
1) Um curso que confira, na instituição literária, a plena existência e o pleno reconhecimento de todas as vertentes de expressão cultural artísticoliterária, tanto erudita quanto popular, bem como de todas as variantes linguísticas em uso numa região, com ênfase especial nos falares e nas linguagens artísticas e para-artísticas do Nordeste;
2) intentamos desenvolver o método comparatista e interdisciplinar para confrontar nossas especificidades regionais de um lado com as particularidades de outras regiões do País (no âmbito de um comparatismo intra-nacional) e do outro com as particularidades de outros países (no âmbito de um comparatismo inter-nacional);
3) buscamos ressaltar a singularidade das obras em estudo, o que terá por efeito possibilitar uma percepção mais refinada da identidade cultural da produção artístico-literária envolvida, igualmente para interrogar as hipóteses de zonas, centros e fronteiras culturais, paralelamente às tendências translocais e transculturais do mundo contemporâneo;
4) Reconhecer, na instituição literária, a riqueza de temas de grande relevância para a cultura e a sociedade, tornando-os constitutivos de algumas de nossas dissertações e teses, além dos projetos de pesquisa.