PPGLI

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Programa de Pós-Graduação em Literatura e Interculturalidade

Seminário discente 2020

Mesa de discentes

 Dia 10/03/2020 – 13h às 15h30


Anderlane Fernandes de Lima



AS VOZES FEMININAS NOS CONTOS DE MIA COUTO

Anderlane Fernandes de Lima (mestranda PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos de Melo Magalhães

Nesta pesquisa, objetivamos analisar as vozes femininas em três contos de Mia Couto presentes no livro O fio das missangas (2009) com o intuito de identificarmos e problematizarmos traços da relação tradição e modernidade, assim como a apresentada por autores como Octávio Paz e Antonie Compagnon, mas que se revela insuficiente para a leitura de Mia Couto. Acerca da compreensão dos termos tradição e modernidade, Octávio Paz em Os filhos do barro fala que o moderno é “Uma tradição feita de interrupções e na qual cada ruptura é um começo.” (Paz 2013, p.15). Em O fio das missangas, os contos estão recheados de temas como o patriarcalismo, a valorização dos ancestrais, a opressão contra a mulher, entre outros, são pessoas e situações comuns na cultura moçambicana, um campo em transição, haja vista, as constantes tensões oriundas da relação tradição e modernidade, um permanente gerar de identidades e rupturas nos quais observamos mulheres que enfrentam o que as oprimem e as silenciam, são essas personagens o foco da nossa pesquisa. Antonie Compagnon em Os cinco paradoxos da modernidade (2010) corrobora com o entendimento de Octávio Paz no que se refere à modernidade enquanto uma tradição de rupturas, e discorre sobre uma modernidade marcada por paradoxos. Paradoxos presentes nos contos trabalhados e nos quais observamos mulheres que assumem o controle do seu próprio destino, mulheres que são protagonistas não apenas das narrativas analisadas, mas, sobretudo, protagonistas das suas histórias.

PALAVRAS-CHAVE: Vozes femininas, Protagonismo, Mia Couto.


 Mylena de Lima Queiroz



TRANSFRONTEIRA NA OBRA DE GUIMARÃES ROSA:
DA EUROPA PARA-A-GUERRA DAS CRÔNICAS AO SERTÃO MUNDO

Mylena de Lima Queiroz (doutoranda UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos de Melo Magalhães

Considerado o único literato brasileiro que escreveu um diário sobre a experiência na Alemanha nazista, esta façanha de João Guimarães Rosa é pouco evidenciada pela sua vasta fortuna crítica, ainda que tenha lhe rendido um dossiê da Gestapo sobre suas atividades e um confinamento pelo governo alemão de três meses em Baden Baden. Reunião póstuma de textos escritos em diversos períodos, sendo muitos assinados com datas entre os anos em que foi cônsul-adjunto em Hamburgo (1938-1942), Ave, Palavra apresenta crônicas que trazem à tona conhecidos de Guimarães na Embaixada e além dela, como são os casos do transfronteira repatriado Zé Osvaldo, em Homem, Intentada Viagem, e de Frau Madsen, em O Mau Humor de Wotan, jovem cuja simpatia por Hitler era “romântica” e “imprudente”. Dita a obra máxima do autor, Grande Sertão: Veredas (1956) não apresenta um sertão seco de um homem só: não apenas há mais de quatrocentas localidades, entre rios, riachos, ribeirões e lagos, como tem sido lido pela crítica contemporânea como uma babel sertaneja, considerando a presença de estrangeiros na narrativa, e como um sertão de fronteira transnacional – o que se alia à perspectiva de Silviano Santiago de que a fortuna crítica clássica da obra acabou por domesticar o monstro que é o romance de Rosa, ao relacioná-lo ao Sertão euclidiano. Isto posto, utilizando o termo criado por Rosa para explicitar o caso do imigrante Zé Osvaldo, propomo-nos a analisar essas transfronteiras na obra rosiana, sendo basilares as contribuições de Scarpelli (2000), Eneida Maria de Souza (2002), Heloísa Vilhena de Araújo (2007), Jaime Ginzburg (2009), Aline Ávila (2017) e Santiago (2017), para citar apenas estes.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura transfronteira; Crônicas; Guimarães Rosa.


 Janaína Oliveira Diniz



O SAGRADO E A VOZ FEMININA NA LITERATURA MÍSTICA DE MARGUERITE PORETE

Janaína Oliveira Diniz (mestranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Maria Simone Marinho Nogueira

Neste trabalho se tem o propósito de realizar uma investigação acerca da atuação da mulher no período medieval, destacando questões referentes à espiritualidade, intelectualidade/literatura e às relações de poder entre a Igreja, a mística feminina e o movimento das beguinas, que irá compor o cenário histórico necessário para análise da obra O Espelho das Almas Simples e aniquiladas e que permanecem somente na vontade e no desejo do Amor, da autora francesa Marguerite Porete — escrita em forma de diálogo — que permeia sua história com base na conversação das personagens principais, Alma e Amor, tendo como antagonista a Razão. Deste modo, mesmo sem perder de foco o contexto do livro poretiano, procura-se examinar O Espelho por meio de uma ótica contemporânea, tendo como hipótese a ideia de que o texto em análise pode ser compreendido como obra de autoficção/escrita de si e, para tanto, resgata-se traços da memória da sua autora com o intuito de identificar questões subjetivas no tocante à escrita e à atuação da mulher em seu contexto intelectual, religioso e social. Para a isso, é necessário, ainda, adentrar em questões referentes à literatura cortês — base literária da obra pesquisada —verificando seus princípios e sua estrutura na composição das cantigas de amor, com a perspectiva de realizar uma análise comparativa da estrutura formal do texto principal com a literatura cortês, identificando suas semelhanças e diferenças por meio dos conceitos de morte — contidos na literatura cortês — e de aniquilamento, temática presente na obra poretiana. Ao se destacar o conceito de aniquilamento como parte fundamental de O Espelho de Marguerite Porete, chama-se atenção para a personagem Alma, ressaltando, assim, a presença do sagrado feminino/mulher por meio da união entre aquela e o Amor. Para tanto, as principais referências teóricas serão CERTEAU (2015), FOUCAULT (1992), KLINGER (2007), MCGINN (2017), RÉGNIER-BOHLER (1990).

PALAVRAS-CHAVE: Marguerite Porete. Aniquilamento. Sagrado. Feminino. Amor Cortês.


 Giovane Alves de Souza



RELAÇÕES DE PODER NO MATRIMÔNIO EM CONTOS DE LITERATURA ESTADUNIDENSE

Giovane Alves de Souza (mestrando PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientadora: Profa. Dra. Maria Simone Marinho Nogueira

Ao longo da História, a instituição do casamento tem sido fonte contínua de inspiração para a criação de narrativas literárias. Vários escritores e escritoras, como Jane Austen, por exemplo, tornaram-se conhecidos por trabalhos que tratam do tema. Há de se notar, porém, que muitos desses textos abordam o casamento como o fim da trama, como algo a ser almejado e que fosse, indubitavelmente, garantir a felicidade eterna às personagens da obra. Contudo, com a mudança das perspectivas em volta do tema, a perfeição atribuída à instituição pelo Romantismo foi problematizada e, com o tempo, um tom mais realista emergiu, trazendo o casamento não como fim da trama, mas como o início dos problemas a serem enfrentados pelas personagens da narrativa. Levando em conta essa nova configuração, o objetivo da nossa pesquisa é tratar das relações de poder entre marido e mulher dentro da instituição do casamento em três contos da literatura estadunidense, sendo eles The Yellow Wallpaper (1892), de Charlotte Perkins Gilman, The Story of an Hour (1894), de Kate Chopin, e Sweat (1926), de Zora Neale Hurston. Em nossa análise daremos atenção às particularidades das opressões sofridas por cada uma das protagonistas e as maneiras pelas quais elas tentaram se libertar de tais opressões. Chamamos atenção para o fato de estarmos lidando com três mulheres escritoras, logo, suas narrativas são construídas com base nas relações de gênero e é preciso ainda atentar para outros fatores em perspectiva nos textos literários, tais como raça e classe, por exemplo. Para isto, utilizaremos das considerações teórico-metodológicas de Ângela Davis (1981), Michel Foucault (2007), Judith Butler (2016), Simone de Beauvoir (2016) dentre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Matrimônio; literatura estadunidense; feminino; poder.


 Tainah Palmeira Rocha



UMA REFLEXÃO METALINGUÍSTICA ATRAVÉS DOS HAIKAIS NA POÉTICA DE ALICE RUIZ

Tainah Palmeira Rocha (mestranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Maria Simone Marinho Nogueira

A reflexão metalinguística é uma temática incessante na literatura, sobretudo nos domínios da poesia. Através de suas nuances, podemos ter acesso ao modo como o(a) autor(a) compreende e operacionaliza o fazer poético, aponta suas dificuldades de expressão e dialoga com outros escritores, dentre outros aspectos. No que diz respeito especificamente à poesia metalinguística produzida por mulheres, no âmbito da literatura nacional, tal escrita somente obteve reconhecimento a partir do século XX, tratando-se, portanto, de um acontecimento literário recente. Nesta perspectiva, restringindo ainda mais o campo de nossas observações, a presença de uma poetisa brasileira que confere à sua escritura o teor da metalinguagem associado a uma forma poética tradicional japonesa, o haikai, constitui fenômeno não apenas recente, senão único. Dessa forma, o objetivo geral dessa pesquisa é investigar o que há de peculiar no fazer poético de Alice Ruiz (1980-2012), através de seus haikais metalinguísticos, dando ênfase ao modo como se configura, no poema, o conceito de poesia e a dinâmica do processo criativo. O grande desafio por trás da investigação constitui-se no exame do manejo do discurso e da dinâmica da metalinguagem, a partir do ponto de vista de uma autora reconhecida e experiente, considerando, ainda, o caráter de complexidade de uma forma poética pouco conhecida e utilizada na literatura brasileira, que prima, em seu conteúdo, pela profunda dimensão filosófica e pela síntese “radical”, em sua composição. Nossas abordagens teórico-críticas apoiam-se, a priori, nas reflexões de Jakobson (1971), Chalhub (1987), Bosi (2000), Moisés (2008, 2012), ao tratar sobre os estudos da metalinguagem e da metapoesia; nas orientações de Candido (1996), para o estudo analítico do poema, não adstrito ao mero levantamento dos recursos expressivos estruturais, mas abrangendo a reflexão acerca das possibilidades de sentido que suscitam a composição poética, na dimensão do conteúdo; por fim, nas ponderações da própria Alice Ruiz, que nos fornece uma ampla compreensão para o estudo de seu processo de criação e da forma poética haikai, a qual reflete quase que perfeitamente na superfície textual a relação conflituosa entre dizer(-se), dizendo da poesia, suprimindo-se e simultaneamente propondo-se através um canal comum a tarefas aparentemente tão díspares: a linguagem poética.

PALAVRAS-CHAVE: Alice Ruiz, Metalinguagem, Haikais Metalinguísticos, Poesia Contemporânea, Lírica Feminina.


Leandro de Sousa Almeida



INES&NOS: UMA APLICAÇÃO DO MÉTODO LERATOS NA FORMAÇÃO DE UMA COMUNIDADE ATIVA DE PROFESSORES LEITORES DO MITO DE INÊS DE CASTRO

Leandro de Sousa Almeida (mestrando PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientadora: Profa. Dra. Valéria Andrade
Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Alves de Barros

A pesquisa tem como objetivo geral investigar os impactos da aplicação Inês&Nós do método LerAtos de formação de leitores na construção de uma Comunidade Ativa de Professores Leitores de literaturas inspiradas na figura histórico-mítica de Inês de Castro, por meio de plataforma tecnológica com recursos de ubiquidade, multimiadialidade e interculturalidade. A pesquisa se realizará mediante a aplicação de um ciclo de quatro Oficinas de Criação de Textos Multimodais Performativos inspirados no mito inesiano, envolvendo professores em formação em uma turma da Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo (LECAMPO), do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA), da UFCG. As oficinas compreendem as etapas de Sonhação, Fruição, Criação e Doação presentes no método, as quais serão realizadas durante o Estágio em Docência do programa de pós-graduação. Ao final, pretende-se elaborar um Guia de Boas Práticas para personalizar o método LerAtos, constituindo-se enquanto produto da pesquisa, no qual será publicado formalmente os resultados obtidos e disponibilizados a instituições educativas. O estudo promove uma discussão sobre formação de comunidades leitoras ubíquas, multimidiáticas e interculturais da literatura inesiana, partindo, inicialmente, da interlocução luso-brasileira mediante uma experiência gamificada de leitura performática e de transcriação do mito inesiano, apoiando uma perspectiva inovadora do ensino de literatura, fundamentada no multiletramento e na escrita criativo-performativa. Tem-se como referencial teórico os estudos sobre comunidade leitora ubíqua (BARROS e ANDRADE, 2018; ANDRADE, 2019), multiletramento intermidiático (ROJO e MOURA, 2019), gamificação (MCGONIGAL, 2012) e adaptação (HUTCHEON, 2006).

PALAVRAS-CHAVE: Inês de Castro, Método LerAtos, Comunidade Leitora, Literatura Inesiana, Formação de Leitores.


Rafael Barros de Sousa



O DESPERTAR DE NOVOS LEITORES-AUTORES PELA MEDIAÇÃO DO MITO DE INÊS DE CASTRO EM FOLHETOS DE CORDEL PARA ESCUTAR: ENCANTAMENTO TECNOLÓGICO E DIÁLOGO INTERCULTURAL

Rafael Barros de Sousa (mestrando PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientadora: Profa. Dra. Valéria Andrade
Co-orientador: Prof. Dr. Marcelo Alves de Barros

O objetivo geral da pesquisa é investigar os impactos da aplicação Inês&Nós do método LerAtos de formação de leitores na construção de uma Comunidade Ativa Leitores de literaturas inspiradas na figura histórico-mítica de Inês de Castro, por meio de uma plataforma tecnológica com recursos de ubiquidade, multimiadialidade e interculturalidade, na qual, mediante adaptação do folheto de cordel História de Inês de Castro, a dama lourinha que depois de morta virou rainha, de Fábio Sombra, serão produzidos livros sonoros com vistas a promover a capacidade de um leitor de tornar-se um leitor-autor. A pesquisa é conduzida mediante a aplicação de um ciclo de quatro Oficinas de Criação de Textos Multimodais Performativos inspirados no mito inesiano, envolvendo estudantes do último ano do nível Secundário do Agrupamento de Escolas de Valongo, em Portugal, e dos anos iniciais da Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo, da UFCG, Campus de Sumé, no Brasil. As oficinas compreendem as etapas de Sonhação, Fruição, Criação e Doação presentes no método, além da realização do Festival Intercultural de Leituras Inês&Nós. Ao final, pretende-se elaborar um Guia de Boas Práticas para personalizar o método LerAtos de adaptação para projetos de comunicação inclusiva na escola, no qual serão publicados formalmente os resultados obtidos e disponibilizados a instituições educativas. O estudo promove uma discussão sobre formação de comunidades leitoras ubíquas, multimidiáticas e interculturais da literatura inesiana, partindo, inicialmente, da interlocução luso-brasileira mediante uma experiência gamificada de leitura performática e de transcriação do mito inesiano, apoiando uma perspectiva inovadora do ensino de literatura, fundamentada no multiletramento e na escrita criativo-performativa. Tem-se como referencial teórico os estudos sobre comunidade leitora ubíqua (ANDRADE, 2019; BARROS e ANDRADE, 2018), gamificação (MCGONIGAL, 2012), adaptação (HUTCHEON, 2006) e intermidialidade e estudos interartes (DINIZ, 2013).

PALAVRAS-CHAVE: Método LerAtos, Comunidade Leitora, Literatura Inesiana, Formação de Leitores, Livro sonoro.

Mesa de Egressos

Dia 10/03/2020 – 16h às 18h30

 Deyseane Pereira dos Santos Araújo



RECONFIGURAÇÕES E METAMORFOSES DO FAZER LITERÁRIO NA ERA DIGITAL

Deyseane Pereira dos Santos Araújo (doutorado PPGLI/UEPB)

Os novos estatutos da literatura na cultura digital acarretam mudanças significativas na produção, na recepção e na circulação do “texto literário”, inclusive em sua configuração genérica. Dito de outra forma, a literatura, no contexto da Videosfera (DEBRAY, 1993a), mediada por máquinas tecnológicas (GUATARRI,1992/2012), põe em evidência uma complexa relação processual, de considerável relevância, que aponta para além de uma simples interação mecânica, de complementaridade corporal. Há, nesta relação, uma nova percepção do que seja literatura, ou, de forma mais específica, uma (re)configuração da noção clássica de ficção narrativa (ainda literária?) à luz da evolução das novas mídias, e, de modo especial, da emergência suscitada pela indústria videolúdica (TEIXEIRA,2013). Diante disso, as reflexões aqui tecidas sobre a reconfiguração do fazer literário no contexto nos novos suportes, em especial no contexto dos videojogos, não pretende, de todo modo, analisar a própria possibilidade ou não de definição do que é literatura. Evitamos, de certo modo, esse campo minado, e nos voltamos para reflexões, como feitas por Teixeira (2013), que tentem responder os seguintes questionamentos: Será que a modificação da materialidade do suporte livro para o ecrã do computador suscitou uma (im)possibilidade de se falar de ficção narrativa e de literatura nesses suportes? A virtualização do conteúdo narrativo feito de uma forma diversa da do suporte livro nos videojogos mantém ou altera o que se entende por Literatura? E como se dá o processo de leitura e escritura mediadas por essas máquinas territorializadas (GUATARRI, 1992/2005)? São essas as questões que tentamos responder em nossa pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: literatura, ficção narrativa, videojogo.


 André Angelo de Medeiros Araujo



O EFEITO DO REAL NOS CONTEXTOS DO – INTER DA TRILOGIA A SAGA DOS BRUTOS DE ANA PAULA MAIA.

André Angelo de Medeiros Araujo (mestrado PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Luciano Barbosa Justino

Iniciamos nossas proposições partindo de apreciações teóricas as quais orbitaram em torno da escrita e sua relação com a fotografia a partir de Benjamin, (esse também se deteve sobre a literatura realista) visando dar vazão a outros discursos que possam dialogar com o que se tem discutido no geral sobre a teoria barthesiana o efeito do real, e, mais restritamente, ao efeito do real no realismo contemporâneo em seu agenciamento com as referências intermidiáticas, concebidas a partir do que temos em Irina Rajewsky (2012), ao tratar desta que seria uma terceira subcategoria da intermidialidade. Portanto, partindo do pensamento sobre a aproximação entre o verbal e o visual, discutidos por Tânia Pellegrini, destacamos algo específico debatendo a cultura das mídias em suas relações dialógicas presentes na obra A saga dos Brutos (2009) de Ana Paula Maia: as referências intermidiáticas aparecem na obra como efeito do real midiático, logo são elas que através de um escrita performática sustentam a tendência do realismo indexical (SCHOLLHAMMER, 2013) e seus desdobramentos performáticos nos contextos do –inter. Notadamente, a finalidade da leitura intercultural é desestabilizar a ideia fixa do que seria o efeito do real no realismo a partir do diálogo com a crítica cultural; deslocá-lo de sua posição de centralidade calcada na estética colonialista eurocêntrica, pensá-lo-emos segundo uma dobra deleuzena. Por isso, partindo de uma leitura na qual o filósofo veio debater uma série de processos de subjetivação, logo viemos a promover uma discussão comparada sobre o realismo contemporâneo brasileiro e o realismo em outras culturas marcadas por um traço animista enquanto levante anti-imperialista. O levante da estética animista contra o saber disciplinar ocidental instiga dirigir nossa reflexão para pensar o que vem a ser o efeito do real dentro do circuito mundial (policêntrico) da literatura, defendendo que uma leitura intercultural do efeito do real sucinta incorporar uma desobediência epistêmica como opção descolonial (MIGNOLO, 2008).

PALAVRAS-CHAVE: Realismo, Efeito do Real, Intermidialidade, Interculturalidade.


 Prof. Dr. Sílvio Sérgio Oliveira Rodrigues



IMPACTOS DO PROGRAMA DE MESTRADO DA UEPB NA MINHA VIDA PROFISSIONAL

Prof. Dr. Sílvio Sérgio Oliveira Rodrigues,
Professor de Língua Portuguesa e Literatura do IFPB
Supervisor bolsista da CAPES – PIBID (UFPB)
Orientador: Prof. Dr. Luciano Barbosa Justino

Esse resumo consiste em trazer os impactos na minha vida profissional, oriundos dos estudos de pós-graduação feitos através do Programa Mestrado em Literatura e Interculturalidade (MLI) da Universidade Estadual da Paraíba, entre os anos de 2007 e 2009, que teve como orientador o professor Dr. Luciano Barbosa Justino, com a dissertação intitulada Manguebeat, interdiscurso e intersemiose: uma resposta do contemporâneo ao pós-moderno. Após terminado o curso de mestrado, já ingressado no IFPB como professor efetivo, passei a executar pesquisas na área de Literatura Contemporânea e Poéticas Urbanas, tendo sido coordenador de 5 projetos de pesquisa envolvendo literatura, música e cultura, além de vários cursos de extensão para a comunidade de Cabedelo, voltados para os estudos na área de literatura e cultura. Em 2011, fui aprovado na seleção de doutorado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH – tendo defendido minha tese em 2015, sob a orientação do professor Dr. Selvino José Assmann (in memoriam), intitulada Manguebeat, uma poética de fluxos. A possibilidade de ingressar no doutorado da UFSC só foi possível devido à linha de pesquisa que eu tinha feito durante o mestrado, sendo a mesma voltada para a área de interculturalidade e interdisciplinaridade. Atualmente, continuo aplicando meus conhecimentos adquiridos no programa MLI na sala de aula, sempre voltados para uma discussão interdisciplinar e multicultural com meus alunos, despertando nos mesmos o interesse pelo desenvolvimento de trabalhos ligados à cultura de massa, movimentos populares e culturais periféricos, como é o caso da dança de rua, grafite, hip hop, trabalhos artesanais com marisqueiras, além de participar de Projetos Integradores, no Campus onde atuo como professor, em parceria com colegas da área tecnológica nos Cursos Integrados em Meio Ambiente, Recursos Pesqueiros e Multimídia.


 Andreia de Lima Andrade



DO DOMINÓ ÀS MÁSCARAS: O JOGO AUTOFICCIONAL NA CONTÍSTICA FLORBELIANA

Andreia de Lima Andrade (doutorado PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Francisca Zuleide Duarte de Souza

A tese defendida em junho de 2019, discute e analisa a obra contística de Florbela Espanca pelo viés das escritas de si, com reflexões subsidiadas por críticos como Philippe Lejeune (2008) (2013) (2014), Doubrovsky (2014), Colonna (2004) (2014), Sébastien Hubier (2003), dentre outros. Pareceu-me útil, para o estudo da prosa florbeliana, usar o conceito de autoficção. A pesquisa demonstra como a poetisa alentejana transforma os acontecimentos de sua vida em ficção, sendo capaz de atuar como atriz do seu próprio espetáculo, num jogo literário que ora revela, ora disfarça a dor, e não descarta a “participação” do leitor na (re)construção dos sentidos. A leitura centra-se nos contos: “Mulher de Perdição”, “À Margem dum Soneto”, “O Dominó Preto”, “Amor de Outrora”, presentes em O Dominó Preto e “O Aviador”, “A Morta”, “Os Mortos não Voltam”, “O Resto é Perfume”, “O Inventor”, de As Máscaras do Destino. Estrategicamente, retomo a noção de “Literatura Viva”, defendida pelo Grupo da revista Presença. Para José Régio, um dos fundadores e diretores do aludido periódico, “a arte é a expressão, sugestão, ou representação do mundo (interior e exterior) através dum temperamento próprio, dum conhecimento pessoal, duma alma individualizada”. A metodologia de investigação, além de fundamentar-se nos já mencionados críticos que refletem sobre a autobiografia e autoficção, baseia-se em textos teóricos sobre autor/narrador, autor implícito, de Wayne Booth (1980), Maria Lúcia Dal Farra (1978), Roland Barthes (1975). Para além dos conceitos aqui mencionados, desenhei uma cartografia autoficcional de Florbela Espanca, evidenciando as múltiplas faces da poetisa calipolense.

PALAVRAS-CHAVE: Florbela Espanca. Escritas de si. Autoficção. Autor Implícito


Elisabete Borges Agra



UMA ABORDAGEM NÃO CONVENCIONAL NAS AULAS DE LITERATURA

Elisabete Borges Agra (UFPB / doutorado PPGLI/UEPB)

Nossa preocupação com o método de ensino nas aulas de literatura surgiu a partir dos processos de interação durante as disciplinas de Mestrado e Doutorado do PPGLI. A partir do princípio que o conceito de literatura é tradicionalmente baseado no texto, sentimos a necessidade de na prática redimensionar esse conceito para entrar com algo que define o texto para comentar o seu próprio diagnóstico. Dessa forma, procuramos não nos envolver com a textualidade, sendo contra a memória, e a favor da experiência, da história e do procedimento. Partimos daquilo que denominamos de construção do real, e como a experiência de mundo do leitor escolar transborda este real do desenvolvimento e fundamento da literatura. Abrimos a leitura no decorrer de nossa prática para além do texto, envolvendo a experiência, que é intermedial, interdisciplinar e intercultural. A referida prática por nós adotada prova que a falha não é a falta de leitura, mas um problema de um conceito de literatura como prática humana, centrada no texto, que não dá conta de uma realidade de leitura plural, o que torna a questão textual do literário, da literatura, algo secundário. Essa experiência resultou em um projeto realizado no Estado da Paraíba em parceria com a UEPB, IFSPE E UFPB, e somente foi possível graças ao apoio a pesquisa extensa e dialógica, acompanhado por alguns docentes do PPGLI. Em sala de aula do Ensino Médio, aplicando conceitos refletidos nas aulas da Pós-Graduação, tivemos como base teórica as discussões de intermidialidade (Debray), de interdisciplinaridade (Barthes), interculturalidade (Barbero, Mbembe, Guattari, Deleuze, Derrida), entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Ensino. Interculturalidade. Intermidialidade. Interdisciplinaridade.


 Izabel Cristina Oliveira Martins



INSÍLIOS E GUERRAS EM POÉTICAS FEMININAS

Izabel Cristina Oliveira Martins (doutorado PPGLI/UEPB)

A guerra é vivência marcante e tema largamente registrado pelas literaturas africanas. Não podia ser diferente, considerando que as chagas decorrentes dos inúmeros conflitos civis ocorridos no continente ainda encontram-se abertas. No que diz respeito à produção literária de escritoras africanas que abordam a temática, muito se dá prioridade ao protagonismo feminino, destoando da partitura histórica tradicional que impõe à mulher apenas o papel de figurante. Desse modo, o romance africano produzido por autoras descarta a ideia de que as grandes guerras tenham sido empreendimentos exclusivamente masculinos e volta seu olhar para a periferia dos conflitos armados e de lá desoculta as mulheres que precisaram ficar em casa, na chamada home front, como lembra Margarida Calafete Ribeiro, as que tiveram de abandonar sua terra natal e acompanharam os maridos, as que foram vítimas de violações, as que em “insílio” tiveram que perambular por seus países sem perspectivas de retorno à comunidade natal e tantas outras que, em situações bélicas, foram invisibilizadas. Tematizar e problematizar a narração dos sofrimentos das mulheres têm sido uma constante em narrativas de escritoras que contextualizam a experiência traumática da guerra, no entanto, sem enquadrar o sujeito feminino como vítimas improdutivas e sem negligenciar sua importância social e política, entendendo que o sucesso e a transformação de uma nação dependem da participação de todos, de homens e mulheres, assim como acreditavam algumas lideranças políticas, a exemplo do guineense Amílcar Cabral. Considerando o exposto, o artigo trata das narrativas A mulher de pés descalços, da escritora ruandense Scholastique Mukazonga, e Guerreiras da paz, da liberiana Leymah Gbowee, chamando a atenção para a situação insiliar das personagens femininas e, sobretudo, destacando o modo como estas obras quebram o estereótipo de mulheres como vítimas passivas da guerra. A metodologia de investigação, além de fundamentar-se nos estudos de Seligmann-Silva; Ginzburg; Hardman (2012) que se voltam para as “escritas da violência”, baseia-se em estudos que operam com a definição de insílio (VOLPE, 2005) e em trabalhos que tratam da mulher no contexto da guerra no continente africano, a exemplo de Ribeiro (2007), dentre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Guerra; Insílio; Mulher; Literatura Africana.


 

Mesa de Discentes

Dia 11/03/2020 – 09h às 11h30

 José Aldo Ribeiro da Silva



“ENRAIZERRÂNCIAS”: PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO CULTURAL EM ABDULAI SILA

José Aldo Ribeiro da Silva (doutorando PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Francisca Zuleide Duarte de Souza

Abdulai Sila, primeiro romancista da Guiné-Bissau, é um escritor cujo recente legado dialoga intensamente com a história de seu país. Seus escritos, seguindo uma tendência literária que vem ganhando força nas últimas décadas, revisitam marcos históricos determinantes na trajetória de seu povo, colocando no centro do território ficcional as experiências de grupos humanos para os quais as relações de dominação e poder circunscreveram as margens da sociedade. O território da Guiné-Bissau, como ressalta Moema Augel (2007: 53), foi inicialmente aproveitado pelos portugueses como um empório comercial e não como uma colônia de assentamento. Essa situação inicial foi determinante para a ausência de investimentos, por parte do colonizador, no país, que hoje se apresenta como um dos mais pobres do mundo. A situação econômica da Guiné, para além de suas instabilidades políticas, conduziu muitos intelectuais ao degredo e fez com que temáticas como migração, exílio, apropriações simbólicas de valores étnicos e negociações identitárias ocupassem lugares proeminentes nas obras que compõem sua literatura. Os textos de Sila emergem nesse contexto como agenciadores de intensas reflexões sobre as transições identitárias que fazem parte da história bissau-guineense. Analisar de que forma os processos de identificação são representados no romance A Última Tragédia (1995) é o objetivo central desta pesquisa. Para isso, são mobilizados conceitos teóricos de Ángel Rama (2001), Pratt (1998), Glissant (2005) e Walter (2009).

PALAVRAS-CHAVE: Literatura; transculturação; identidades.


 Maria Ismênia Lima



REPRESENTAÇÕES DA INFÂNCIA EM NARRATIVAS ANGOLANAS: OS MÚLTIPLOS DESLOCAMENTOS

Maria Ismênia Lima (mestranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientadora: Profa. Dra. Francisca Zuleide Duarte de Souza

As literaturas produzidas nos países africanos de Língua Portuguesa, em especial a Angola, caracterizam-se por possuírem uma intrínseca relação com a história e percursos formativos da nação, de forma que revelam as múltiplas particularidades e nuances desta. Nesse sentido, muitos são os temas enfatizados, dentre eles está a questão colonial, o pós-colonialismo e a infância. Este último é bastante recorrente na literatura angolana, tanto na produção poética quanto na prosa e traz para a conjuntura narrativa o ponto de vista singular, qual seja, o olhar de indivíduos que estão situados nesse entrelugar: a infância e o mundo adulto. Isto posto, a presente pesquisa tem como objetivo a análise das representações da infância em narrativas de Luandino Vieira e Pepetela, tendo em vista que cada um a seu modo, trouxe para o constructo narrativo personagens que estão envoltos por esse universo da infância, aprendendo acerca da vida e que nesse entremeio realizam movimentos de descobertas de si e dos outros. As narrativas a serem analisadas correspondem às seguintes: “A fronteira de asfalto”, conto presente na antologia “A cidade e a infância” (2007), de Luandino Vieira; “Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos”, novela presente na obra “Luuanda” (2006), obra também de Luandino Vieira e, por último, a novela “As aventuras de Ngunga” (2013), do escritor Pepetela. Focalizar-se-ão os personagens protagonistas “Ricardo” (“A fronteira de asfalto”), “Zeca Santos” (“Vavó Xíxi e seu neto Zeca Santos”) e “Ngunga” (“As aventuras de Ngunga”), de modo a perceber as subjetividades e os deslocamentos de cada um dentro das narrativas. Dito isto, alguns dos referenciais teóricos a serem abordados na pesquisa acerca do pós-colonial e das literaturas africanas de língua portuguesa são: Fanon (2006, 2008), Ervedosa (s/d), Margarido (1980), Trigo (1985). Sobre a representação da infância tem-se Chaves (1999, 2005), Santilli (1985), Macêdo (2007) Tutikian (2009).

PALAVRAS-CHAVE: Infância, Narrativas, Luandino Vieira, Pepetela.


 Maria Rennally Soares da Silva



A MULHER IMIGRANTE ARGELINA E O RESGATE DA MEMÓRIA COMO ESTRATÉGIA DE DESCOLONIZAÇÃO, EM NULLE PART DANS LA MAISON DE MON PÈRE, DE ASSIA DJEBAR

Maria Rennally Soares da Silva (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Francisca Zuleide Duarte de Souza

Uma das temáticas mais discutidas na atualidade é a questão dos fluxos migratórios em diversas nações. Os índices de deslocamentos feitos pelos indivíduos que saem de suas comunidades de origem para construírem uma nova vida em outras nações, sempre foram muito elevados. O estudioso dos fluxos migratórios Abdelmalek Sayad (1998) situa o imigrante como aquele que deixa o seu país de origem para chegar à elghorba, ou seja, ao exílio, passando a ser percebido como um sujeito provisório/estrangeiro que, por vezes é tolerado, mas nunca é aceito como cidadão do país no qual se encontra e, assim, se torna um sujeito sem pátria. Neste âmbito, situamos a escritora argelina Assia Djebar (1936-2015), cuja obra literária abrange como temas centrais a emancipação feminina da mulher árabe, os seus conflitos identitários franco-argelinos e a situação conflituosa da Argélia à época da colonização. Djebar imigrou para a França aos dezoito anos para estudar, onde tornou-se escritora, professora de história e cineasta. Neste trabalho de cunho bibliográfico (GIL, 2007), temos como objetivo identificar o resgate de memórias traumáticas como uma estratégia de descolonização utilizada pela protagonista do romance Nulle part dans la maison de mon père (2007). No romance em estudo, identificamos como estratégia de descolonização o resgate de memórias de infância, de adolescência e de vida adulta da personagem Fatima, plenas de dores e de choques culturais, sendo esse resgate uma forma de superar os traumas relativos às interdições do seu pai – um argelino intransigente, figurado no romance como metáfora do colonizador francês presente na Argélia. A leitura desse romance nos oferece uma visão mais próxima das intempéries sofridas por uma mulher árabe imigrante, antes e depois da sua chegada em um país estrangeiro – nesse caso, a França, nos permitido enxergar a situação dos imigrantes com acolhimento e alteridade.

PALAVRAS-CHAVE: Imigração. Mulher imigrante. Descolonização. Mulher africana árabe. Assia Djebar.


 André Aparecido de Medeiros



REESCREVENDO MITOLOGIAS: O HERÓI REVISIONÁRIO NAS ROMANCIZAÇÕES DA DC

André Aparecido de Medeiros (doutorando PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Diógenes André Vieira Maciel

Trata-se da análise da reescritura da mitologia de heróis em duas romancizações, Man of Steel: the official movie novelization (COX, 2013) e Wonder Woman: The Official Movie Novelization (HOLDER, 2017), sob a ótica do herói revisionário. O conceito de herói revisionário (KLOCK, 2002) trata do rompimento da tradição poética construída em torno de um personagem ao longo do tempo, dado pela necessidade de tornar este herói novamente relevante para a sua contemporaneidade, gerando uma desleitura de sua tradição poética. Assim, pretendemos analisar como se dá o rompimento das tradições poéticas construídas em torno dos heróis das romancizações em questão – Superman e Mulher-Maravilha – e suas reescrituras na contemporaneidade. Buscamos também compreender qual o significado dessas mudanças no contexto socio-histórico-mercadológico atual. Para tanto, abordaremos o problema revisitando algumas das principais histórias constituintes da mitologia dos personagens, como narrativas de origem, por exemplo, para mapear seu tronco mitológico e compreender os pontos em que há tal rompimento da tradição. Também serão consideradas outras contribuições, como a de Maslon e Kantor (2013) e Reynolds (1994), para tratar da construção da mitologia dos super-heróis, Robb (2014) e Johnson (2012), para contextualizar históricamente os personagens, e por fim, Jan Baetens (2005; 2018), para discutir a romancização e sua importância da atualidade, gênero pouco explorado academicamente, porém consideralvemente presente no mercado nas últimas décadas, e mais presente ainda nos últimos anos.

PALAVRAS-CHAVE: Romancização. Tradição poética. Revisionismo. Desleitura. Super-herói.


Monalisa Barboza Santos Colaço



DRAMATURGIA NA CENA DO TEATRO CAMPINENSE (1963-1988): TENDÊNCIAS, MEMÓRIAS E CONEXÕES NO PALCO DO TEATRO MUNICIPAL SEVERINO CABRAL

Monalisa Barboza Santos Colaço (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Diógenes André Vieira Maciel

A pesquisa historiográfica demanda do pesquisador uma postura ética, notadamente ao lidar com a análise de documentos adstritos a arquivos, percebendo neles a sua historicidade. A presente pesquisa doutoral visa investigar as experiências teatrais que dizem da memória cultural de Campina Grande-PB. Pesquisar a cena teatral de uma cidade interiorana representa uma postura política dos pesquisadores, pois se trata de uma produção estética fora do eixo normalmente privilegiado na historiografia do teatro, assim chamado, brasileiro. O recorte temporal proposto para pesquisa (1963-1988) conduz a um alerta, por considerar peças e produções que dizem de um momento histórico de cerceamento da liberdade de expressão, a saber, o período da Ditadura civil militar. Para tanto, consideraremos como lócus de pesquisa o Arquivo Nacional (em Brasília-DF), onde temos salvaguardado os documentos da DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas). Nesse primeiro momento, tomamos a proposta de Postlewait (2009) em torno da recusa da natureza binária entre evento e contexto na pesquisa historiográfica teatral. Para isso, o professor sugere que o contexto seja considerado em quatro partes: mundo, agentes, recepção e patrimônio artístico, sendo esses fatores pontes que dialogam com o evento teatral. De modo a compreender no que consiste nossa pesquisa, esclarecemos que consideramos não só o texto dramatúrgico, mas também a atividade cênica desenvolvida em seu entorno, investigando as tendências estético-formais que dizem da modernização do teatro campinense no recorte temporal supracitado. Ainda sobre o recorte, evidenciamos que, através do processo de formação da cena paraibana, os festivais e concursos são importantes para compreender essas primeiras tessituras da estética de modernização, evidenciado pela montagem feita por grupos amadores da cidade.

PALAVRAS-CHAVE: pesquisa historiográfica; dramaturgia; teatro campinense.

Mesa de Egressos

Dia 11/03/2020 – 13h às 15h30

 Felipe Pereira da Silva



REPRESENTATIVIDADE E APAGAMENTO DAS MINORIAS EM “O HOMEM VAZIO” DE THIAGO LEE

Felipe Pereira da Silva (mestrado PPGLI/UEPB)

Em tempos de identidades líquidas e de sujeitos descentrados, torna-se necessário refletir sobre os aspectos constitutivos da literatura contemporânea. Este trabalho tem como objetivo analisar a representação de jovens pobres e negros em O homem vazio, de Thiago Lee, ficção fantástica pertencente ao gênero fantasia urbana que traz à tona inúmeras temáticas relacionadas à população negra na sociedade brasileira. A análise evidencia que o texto apresenta uma trama baseada na vida cotidiana, principal esfera em que se origina o preconceito, e sua personagem protagonista Otto é a representação do apagamento e do silenciamento a que são submetidas as pessoas negras na sociedade brasileira, o que leva ao “apagamento” ou esquecimento, representado na obra pelo sumiço das personagens. Segundo Dalcastagnè (2005), há uma ausência de representações de minorias no romance brasileiro contemporâneo, sobretudo quando essas minorias são negros e pobres. Em O Homem vazio, somos apresentados à história de Otto, um jovem negro, de periferia, que sonha em se projetar como youtuber e luta para sobreviver na grande cidade. No seu cotidiano, enfrenta a rotina de trabalho, perigos no metrô, preocupação com a mãe doente, as baladas na famosa Avenida Augusta e estranhos relatos de desaparecimento de “pessoas” na grande São Paulo, um fato comum que passaria despercebido por muitos, em uma das maiores cidades do mundo. Mas, em um dia comum, Otto se depara com uma situação insólita: em uma noite em que está sentado em uma calçada de bar, encontra-se com seu outro eu, “Otávio” ou “o outro Otto”, um “sósia” seu que vive na São Paulo do lado lá, uma realidade paralela à que ele vive. O sósia de Otto explica que os desaparecimentos que estão ocorrendo são causados porque as “pessoas” estão sendo esquecidas, pouco a pouco. Na rotina de todas as coisas que consomem a vida, as pessoas são esquecidas pelos familiares, amigos, colegas de trabalho, paqueras das baladas. E, quando elas são esquecidas, desaparecem, e Otto será o próximo se não fizer algo rapidamente. Temos, então, nessa representação, uma crítica ao apagamento e silenciamento das minorias na sociedade atual. Para o desenvolvimento da pesquisa, faremos uso dos estudos de Hall (2004), Baumann (2005) e Silva (2009) e a teoria de produção social da identidade, que nos ajudarão a compreender os conflitos vividos pela personagem protagonista na tessitura da trama. Sobre o silenciamento de vozes dos sujeitos marginalizados partimos das considerações de Spivak (1995). Os estudos de Dalcastagnè (2002) e Peçanha (2009) nos proporcionarão a compreensão das vozes marginais no texto literário. Sobre o gênero fantasia urbana, partimos dos estudos realizados por Matangrano e Tavares (2018), que propõem o alvorecer de um novo movimento literário na nossa literatura: o “fantasismo”.

PALAVRAS-CHAVE: Thiago Lee. Literatura contemporânea. Fantasia urbana. Silenciamento. Apagamento.


 João Batista Teixeira



TENSÕES DO PÓS-COLONIAL NAS OBRAS CAMPO DE TRÂNSITO, DE JOÃO PAULO BORGES COELHO E ENTRE MEMÓRIAS SILENCIADAS, DE UNGULANI BA KA KHOSA

João Batista Teixeira (doutorado PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Rosilda Alves Bezerra

Esta pesquisa discute e problematiza as situações pelas quais passou uma parcela considerável da população de Moçambique entre os anos de 1974/1980, período que compreende o fim da colonização portuguesa e implantação do Regime Marxista-leninista no Governo de Samora Moisés Machel, após a independência. As situações as quais referidas dizem respeito à chamada Operação limpeza. A ação se efetivou no governo independente que tentou retirar da sociedade moçambicana aqueles que se enquadraram nas categorias de desocupados, curandeiros, régulos, Testemunhas de Jeová, mulheres, prostitutas, pessoas que poderiam praticar os vícios do período colonial ou precisassem de “reeducação” para adentrar no novo tempo em Moçambique. A operação denominada de “limpeza” ou “Operação produção”, foi uma prática e um momento difícil na recente República de Moçambique, que criou os campos ditos de reeducação, para onde enviavam as pessoas retiradas da sociedade e banidas para esse espaço projetado pelo Estado. A obra ficcional dos moçambicanos, João Paulo Borges Coelho, Campo de Trânsito (2007) e Entre Memórias Silenciadas (2013), de Ungulani Ba Ka Khosa, encontram-se representações que permitem investigar o modus operandus na sociedade moçambicana, a partir daquilo que o governo pós-colonial denominou de Operação limpeza e Operação produção. O presente artigo trabalha com a Teoria Pós-colonial e algumas vertentes dela derivadas, investigar na ficção de Borges Coelho e Ba Ka Khosa, como se deu a representação dos eventos mencionados, tal operação e a partir de revisão e levantamento bibliográfico, pesquisa em jornais da época e relatos dos sobreviventes. A Operação limpeza em Moçambique, foi um momento de cisão dessa sociedade e que os tais campos não só afrontaram o Moçambique enquanto nação que se descolonizava, como os direitos civis de centenas de moçambicanos que tiveram suas vidas interrompidas, sequestradas e violadas. Objetivamos visibilizar e encetar sobre o debate as questões que permeiam o Pós-colonial e as nações recém-libertas, que cuja libertação e liberdade não chega a todos e pelo fato de muitos não terem a mesma opinião ou serem suspeitos de oposição ao regime vigente de um povo. O recurso do banimento para campos cheios de violência, barbárie e imposição de uma única ordem e pensamento representa a falta de uma política cidadã, respeitando a liberdade de pensamento.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Pós-colonial, Campos de Reeducação, Moçambique, Operação produção e Literatura Africana de Língua Portuguesa.


 Luís Adriano Mendes Costa



EM DIREÇÃO AO PÓS-ARMORIAL

Luís Adriano Mendes Costa (doutorado PPGLI/UEPB)

O artista recifense Antonio Carlos Nóbrega teve sua infância vivida em várias cidades do interior pernambucano. Seu ingresso no mundo da cultura popular aconteceu por volta de 1972, quando tocando um concerto de violino de Bach com a Orquestra Sinfônica do Recife o jovem músico conheceu Ariano Suassuna. Convidado pelo precursor do Movimento Armorial a integrar o Quinteto por ele criado, Nóbrega passou do violino para a rabeca e mergulhou no universo da cultura popular. A partir daí, passou a desenvolver seus projetos com um estilo próprio de concepção em artes cênicas, dança e música, criando uma extensa linguagem gestual e corporal ao longo dos seus mais de 40 anos de atividade. Um percurso que nos permite verificar sua versatilidade e a elaboração de um repertório variado, que tem levado o artista para além dos elementos caracterizadores do armorial. O presente estudo tem como objetivo apresentar as continuidades e descontinuidades no trabalho do artista Antonio Nóbrega em relação ao projeto armorial, inaugurando a fase pós-armorial do movimento e, consequentemente, lançar um outro olhar em relação à sua obra na atualidade, compreendida para além dos postulados armoriais. Nesse sentido, nos pautamos por uma dupla direção: a primeira revela movimentos descontínuos na obra de Nóbrega em relação ao armorial, promovendo novas configurações e fazendo surgir outros espaços de diálogo, conexões inéditas – em suma, uma paisagem pós-armorial. Paisagem essa que nos introduz na segunda direção, pois essas descontinuidades desvelam uma atualização do armorial no que diz respeito às possibilidades estéticas – outras marcas pós-armoriais.

PALAVRAS-CHAVE: Antonio Nóbrega; Armorial; Pós-Armorial.


Suênio Stevenson Tomaz da Silva



CLI-FI E SOBREVIVÊNCIA: A DIMENSÃO DO URGENTE NA TRILOGIA MADDADDAM, DE MARGARET ATWOOD

Suênio Stevenson Tomaz da Silva (doutorado PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Sueli Meira Liebig

O presente trabalho objetiva oferecer debate a partir de um recorte da minha tese de doutorado defendida em junho de 2019, intitulada de “Apocalipse, sobrevivência e pós-humano: uma narrativa ecocrítica da trilogia MaddAddam, de Margaret Atwood”. Como se percebe, o aporte teórico que fundamenta a tese parte das discussões interdisciplinares oriundas das Humanidades Ambientais, mais especificamente, da ecocrítica, que trata da relação entre literatura e meio ambiente. Para tanto, com base na trilogia supracitada da autora canadense, pretendo discorrer, de modo mais detalhado, sobre o gênero Cli-fi (abreviação em língua inglesa para ficção de mudanças climáticas). Tal gênero, portanto, é uma tentativa político-cultural e alternativa inovadora para comunicar o fenômeno complexo e sem precedentes das mudanças climáticas (MEHNERT, 2016). As características desse tipo de ficção coadunam-se com a ideia de Antropoceno, nome dado ao atual momento histórico em que o humano é visto como uma força geológica. Além disso, cabe frisar a recorrência dos tropos apocalipse e sobrevivência dentro do gênero Cli-fi. Ao imaginar um futuro sombrio para a vida no planeta, Atwood possibilita refletir sobre a ideia de sobrevivência nos três romances da trilogia, tomando como ponto de partida o percurso de suas personagens protagonistas que sobrevivem ao apocalipse, denominado de “Dilúvio Seco”. Indubitavelmente, a retórica apocalítica, aspecto recorrentemente abordado em narrativas literárias contemporâneas, sobretudo fílmicas, consiste num elemento poderoso para comunicar os efeitos catastróficos das mudanças climáticas, como estes ocorrem em MaddAddam. Por isso, uma proposta hermenêutica para a referida obra literária sob o viés da ecocrítica, se apresenta como um estudo relevante, considerando a dimensão da urgência no tocante às mudanças climáticas e ao futuro da vida no planeta Terra.

PALAVRAS-CHAVE: Cli-fi, Apocalipse, Sobrevivência, Ecocrítica.


 Prof. Dr. Nivaldo Rodrigues da Silva Filho



CINEMA INSTANTÂNEO NO SEMINÁRIO DISCENTE – PPGLI 2020

Prof. Dr. Nivaldo Rodrigues da Silva Filho

O Movimento Cinema Instantâneo (C.I.) teve início em agosto de 2018 e já conta com um portfólio de 21 filmes. Trata-se de uma proposta de autoaprendizado, resistência e experimentação da produção audiovisual. Aspectos como coletividade, tradução intersemiótica e um pujante dialogismo local tem levado às telas produções premiadas realizadas em vários estados brasileiros, para festivais e mostra no Brasil e no exterior. Além de produzir filmes o C.I. procura interagir no cenário reflexivo desenvolvendo pesquisas, análises críticas e participando de encontros acadêmicos. Esta mostra exibirá filmes produzidos na edição II no C.I no estado da Paraíba.


 Luiz Felipe de Queiroga Aguiar Leite



SELF E SONHOS EM TERRA SONÂMBULA

Luiz Felipe de Queiroga Aguiar Leite (doutorado PPGLI/UEPB)

Terra sonâmbula é um romance sui generis por constituir-se como um dos
principais escritos da emergência das literaturas africanas no cenário mundial, e por reunir
elementos estéticos que permitem uma abordagem ampla e interdisciplinar, quando as
temáticas sociais presentes se entrelaçam com pinceladas de realismo mágico e notas de
surrealismo à africana, onde o inconsciente torna-se substância indispensável da
narrativa, participando, junto com a linguagem, seja joyceana ou rosiana, das construções
de significados que o jogo dos significantes produz. Tomando este painel através de uma
perspectiva fenomenológica, e centrados no encontro da literatura com o universo da
psique e, portanto, do inconsciente, objetivamos um estudo do self, através de sua
manifestação mais corrente, os sonhos, no diálogo que estabelece com os personagens,
em seus percursos na narrativa. Jung (2013) diz que o self age como um daimon, um
elemento aparentemente externo que dialoga com o ego. O self, através dos sonhos,
orienta o desenvolvimento da psique, portanto, do ser. O universo onírico em Terra
sonâmbula, sugere, é por vezes acintoso, mas está sempre propondo uma imagem, uma
ficção, diria James Hillman (2010), cujos pontos de chegada visam a cura, mas também
podem se deparar apenas com o nada.

PALAVRAS-CHAVE: self; sonhos; Terra sonâmbula.


 Auricélio Ferreira de Souza



NEGO DITO, A PERSONA DISCURSIVA DO MALANDRO BLACK-NAVALHA: UMA LEITURA DA PERMANÊNCIA DO EU LÍRICO MARGINAL NA POÉTICA LÍTEROMUSICAL DE ITAMAR ASSUMPÇÃO

Auricélio Ferreira de Souza (IFCE -doutorado PPGLI/UEPB)
auricelioferreirasouza@gmail.com

Essa pesquisa se coloca como uma proposta de leitura dentro da obra do compositor e cantor Itamar Assumpção (Tietê, 1949 – São Paulo, 2003). A partir da concepção do fenômeno lítero-musical, pretende-se, através de uma imersão em sua obra, postumamente reunida e relançada no produto chamado “Caixa Preta” (contendo 12 cds), identificar e pontuar quais índices de sentido nos autorizam a percepção da recorrência a certos mecanismos discursivos que constroem a autoafirmação de um eu lírico marginal. O chamado “malandro black navalha”: sujeito enunciador de um potente modus de ser e estar no mundo invariavelmente mediado por marcas de vivência que são ora de exclusão, discriminação e violência simbólica e/ou factual (o negro como “isca de polícia”), ora como polo emanador de todo um habitus cultural resistentemente sensível às múltiplas marcas identitárias emergentes na cena brasileira a partir do início década de 80 do século XX e, dentro desta, todo um potente conjunto de subjetividades particulares ao espaço urbano-periférico. Nesse terreno instável em que as configurações do jogo social operam simultaneamente para a afirmação de um centro de poder (branco, judaico-cristão e eurocentricamente conectado) e para o silenciamento das margens (a periferia e suas intersubjetividades), este sujeito/persona enunciado na poética de Assumpção tende a nos fornecer um ângulo de percepção bastante potente sobre as relações de permissão x negação do direito de fala na cultura brasileira, ainda nos dias de hoje. Para tanto, auxiliam nessa análise, contribuições como as de Tatit (1994, 1996, 1997, 2001); Barbero (2003); Benjamin (1994), Bordieu (2003), além de Spivak (2010), Virno (2007), Hardt e Negri (2005), Bhabha (1998) Gumbrecht (1998) Gilroy (2001), Perlman (1977). O método será a análise semiótica do discurso lítero-musical.

PALAVRAS-CHAVE: Líteromusical; Musica Popular; Itamar Assumpção; Semiótica.

Mesa de Discentes

Dia 11/03/2020 – 16h às 18h30

 Michelle Thalyta Cavalcante Alves Pereira



PROBLEMATIZAÇÃO DA CONDIÇÃO DA MULHER NO INÍCIO DO SÉCULO XX EM SOZINHA E UM DIVÓRCIO, DE SARAH BEIRÃO

Michelle Thalyta Cavalcante Alves Pereira (mestranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Aldinida Medeiros
Co-orientadora: Doutora Isabel Lousada

O projeto de dissertação em curso pretende uma análise da escrita romanesca de Sarah Beirão, observando aspectos que pretendemos discutir de forma verticalizada no recorte de dois romances como objeto de estudos mais específicos: Sozinha (1940) e Um divórcio (1950). Intencionamos mostrar as representações das personagens femininas nestes dois livros, considerando questões relativas à luta da mulher, no início do século XX, na sociedade portuguesa. Lembramos que estas lutas começaram há muito tempo, mas, apenas com as reivindicações dos grupos feministas é que ganharam mais adeptos e espaço. Sarah Beirão militou em grupos e associações portuguesas pelos direitos da mulher, notadamente foi diretora da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP). Isso nos indica que em seus romances as representações femininas trazem um discurso ideológico destas lutas, de modo que embora possam não aparecer ativamente e em destaque, no primeiro plano das personagens, mas estas marcas perpassam os enredos romanescos. Dessa maneira, essa pesquisa intenta contribuir para dar mais visibilidade às questões da mulher, através das representações femininas ficcionadas, buscando mostrar nestes aspectos as atuações e relevo da escrita de Beirão. Para tanto, recorremos aos referenciais teóricos da crítica feminista como também da narratologia para conjugar análise romanesca ás questões de gênero. Dentre os vários nomes do aporte teórico, destacamos: Simone de Beauvoir (2016), Heloísa Buarque de Hollanda (1994), Fátima Pais (2012), Michelle Perrot (2005), Carlos Reis (2006), Cristina Vieira (2008), Rita Teresinha Schmidt (1995), Cecil Zinani (2014), Lúcia Ozana Zolin (2009), dentre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Romances portugueses; Sarah Beirão; Questões de gênero; Identidade feminina.


 Yolanda Maria da Silva



IMAGINÁRIO EDUCADO NA SAGA “AS CRÔNICAS DE NÁRNIA”, DE C. S. LEWIS E NA TRILOGIA “FRONTEIRAS DO UNIVERSO”, DE PHILIP PULLMAN

Yolanda Maria da Silva (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Geralda Medeiros Nóbrega

A presente proposta de tese tem como objetivo pesquisar o trajeto antropológico de dois imaginários simbólicos antagônicos. Nas obras O sobrinho do Mago (2009), O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa (2009) e A última batalha (2009), que compõem a saga As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis, temos explicações sobre o início, meio e fim do mundo hegemônicos com o imaginário cristão. Em A Bússola de ouro (2013), A faca sutil (2013) e A luneta âmbar (2013), que compõem a Trilogia Fronteiras do Universo de Phillip Pullman, temos a explicações sobre o início, meio e fim do universo numa perspectiva ateísta, contrária aos dogmas Cristãos. A forma como cada escritor tenta explicar a origem e a escatologia do universo, demonstra sua cosmovisão de mundo reverberando na composição do imaginário simbólico expresso nas histórias. Na perspectiva teórica de Gilbert Durand (2010), diante da passagem do tempo e da vigência da morte, o homem pode criar um imaginário simbólico de fuga para um plano metafísico longe das imagens nefastas ou, ao contrário, um imaginário simbólico libidinal que toma as imagens da passagem do tempo de forma positiva. Ainda no intuito de ver o poder que estas imagens literárias possuem para influenciar o imaginário infantil, buscaremos nos embasar nos aportes teóricos Gaston Bachelard (2006; 1993) e na psicologia profunda de C. G. Jung (2002; 2000).

PALAVRAS CHAVE: Imagem, Símbolo, Regime Diurno, Regime Noturno.


 João de Souza Lima Neto



JESUS-VIADO – A HEGEMONIA HETEROSSEXUAL NA CONSTRUÇÃO DE NARRATIVAS DE PERSONAGENS VIADAS

João de Souza Lima Neto (doutorando PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Elisa Mariana Medeiros Nóbrega

Este projeto de tese tratará sobre como a Hegemonia Heterossexual é empregada no desenvolvimento das narrativas de personagens-VIADAS em dois produtos culturais contemporâneos: Paul “Jesus” Monroe, um dos sobreviventes nas Histórias em Quadrinhos de The Walking Dead e o brujo Jesús Velásquez, da série de televisão True Blood. Investigaremos os universos heterossexistas em que estas narrativas se passam; analisaremos como o modelo heteronormativo é empregado na construção das personagens-VIADAS; descreveremos o[s] modelo[s] de homossexualidade[s] e homoafetividade[s] das personagens-VIADAS em comparação às práticas das personagens heterossexuais; investigaremos o caso da heterossexualidade compulsória em Paul “Jesus” Monroe e como as narrativas das personagens-VIADAS se desenvolvem em relação à narrativa principal em suas respectivas obras. Não é de hoje que os estudos QUEER se voltam a cultura pop e seus produtos, e a partir do filósofo Jack Halberstam tentaremos “explorar alternativas e procurar uma maneira de escapar das armadilhas e impasses habituais da formulação binária” da hegemonia heterossexual imposta a todas as personagens-VIADAS em análise. Ao aplicar este tipo de estudo para produtos culturais baseados na hegemonia heterossexual, como os que foram selecionados para este projeto, à luz de autores como Jack Halberstam, Paul B. Preciado, Virginie Despentes e Richard Miskolci para a construção das discussões de sexualidades e Maureen Murdock, Vera Lúcia Follain de Figueiredo e Scott McCloud sobre narrativas e mídias, além de outras e outros, pretendemos ampliar as discussões sobre representações das masculinidades e representatividade nas obras de cultura de massa, dando uma compreensão de como se repetem as estruturas de poder nestas obras de ficção e problematizando questões que não apareceriam numa primeira análise mas que se apresentam enraizados na cultura ocidental.

PALAVRAS-CHAVE: QUEER – Narrativas – Hegemonia Heterossexual – Homossexualidade


 Maria Aparecida Nascimento de Almeida



MULHERES (IN)SUBMISSAS: A MULTIPLICIDADE DE PERFIS NA OBRA DE LÍLIA MOMPLÉ

Maria Aparecida Nascimento de Almeida (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Rosilda Alves Bezerra

Na década de 60, do século XX, intelectuais afrodescendentes, insatisfeitos com o domínio dos Estudos Africanos por pesquisadores brancos, cujo “objeto de análise” era a população negra, interviram. Objetivava-se combater o “epistemicído”, disfarçados de saber científico, nos Estados Unidos. Com esse intuito propuseram um campo de pesquisa inovador: os Estudos Africana; tal termo, indicativo de plural, no Latim, evidencia uma importante contribuição dos africanos para a humanidade: a sistematização dessa língua pelos mouros. Assim, a apropriação cultural é uma réplica ao apagamento, pois, nessa conjuntura, as múltiplas experiências dos habitantes de África, e daqueles em diáspora, são evocadas, por meio de uma metodologia inter, multi e transdisciplinar, com o fito de vincular o conhecimento acadêmico ao cotidiano. Destarte, os Estudos Africana possibilitam o que denominamos de práxis disciplinar, ou seja, um esforço intelectual, aliado a uma vivência pautada na libertação das “amarras sociais”. A partir dessa perspectiva, Molefi Kete Asante, em 1980, propôs a afrocentricidade como “orientação metodológica”, na qual apoiamo-nos para desenvolver o presente estudo que visa sondar a multiplicidade de perfis femininos na obra de Lília Momplé, em consonância com a realidade das moçambicanas. Dentre as inúmeras teorias afrocêntricas, evidenciamos a proposta por Cleonora Hudson-Weems, em 1987, denominada Mulherismo Africana, tendo em vista os receios e anseios das mulheres em África, onde gênero, raça e classe fundamentam a opressão. Ao analisarmos as personagens femininas (in)submissas, presentes nos contos das antologias Ninguém matou Suhura e Os olhos da cobra verde, bem como na novela Neighbours, observamos o ‘[…] ser mulher africana, na mesma acepção polidimensional dos estudos Africana”; conforme propõe Nascimento (2009). Para tanto, evocamos Carneiro (2005); Mata e Padilha (2007), Asante, Mazama (2009); Leite (2012); Basimile (2013); Dove, Collins, Chirindza, Silva e Noa (2017).

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Moçambicana. Estudos Africana. Afrocentricidade. Mulherismo Africana.


 Emanuelle Valéria Gomes de Lima



CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS AFRO-BRASILEIRAS NA OBRA INFANTO-JUVENIL DE KIUSAM DE OLIVEIRA

Emanuelle Valéria Gomes de Lima (mestranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientadora: Profa. Dra. Rosilda Alves Bezerra

A disseminação de ideais de belezas, baseados em padrões eurocêntricos, são parte dos efeitos dessa era de movimentação global, tecnológica e informativa em que nos encontramos. Para além disso, o racismo institucionalizado, permeado em todos âmbitos, inclusive na Literatura, tende a produzir modelos de branqueamento que afetam diretamente a construção das identidades étnico-raciais. Pensando nisso, o presente trabalho tem como objetivo analisar as obras Omo-Oba: histórias de princesas (2009), O mundo no black power de Tayó (2013) e O mar que banha a ilha de Goré (2014), em busca dos discursos sobre identidades e culturas afro-brasileiras. As obras, em questão, compõem a produção infanto-juvenil da escritora Kiusam de Oliveira e vão de encontro ao que suscita o mercado global, uma vez que apresentam histórias sobre “belezas infinitas”: a ancestralidade e o reconhecimento das culturas africanas e afro-brasileiras, sendo fundamentais para reflexões acerca de uma possível desconstrução do corpo socialmente imposto. Diante disso, através de revisão bibliográfica, pretende-se verificar a partir quais elementos textuais as protagonistas das obras supracitadas constroem suas identidades étnico-raciais. Para tanto, as discussões são baseadas nas perspectivas de estudiosos como Cuti (2010), Maria Anória J. de Oliveira (2010), Bell Hooks (2019), Eduardo de Assis Duarte (2007; 2011), Kabengele Munanga (1988; 2004; 2006), Stuart Hall (2002), Homi K. Bhabha (2013), Zygmunt Bauman (2005), Nilma Lino Gomes (2003), Neusa Santos Souza (1983), Fratz Fanon (2008), entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura afro-brasileira. Literatura infanto-juvenil. Identidade. Cultura. Resistência.

Mesa de Discentes

Dia 12/03/2020 – 09h às 11h30

 Micaela Sá da Silveira



DESEJOS ESPIRALADOS: AS RELAÇÕES DE AFETO NA LITERATURA BRASILEIRA

Micaela Sá da Silveira (doutoranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientador: Prof. Dr. Antonio de Pádua Dias da Silva

A história da literatura é marcada por abalizar temas que estão relacionados às vivências humanas, proporcionando uma versão escrita da sociedade em que os autores estão inseridos. Dessas vivências ficcionais, chama-nos atenção as relações interpessoais pela multiplicidade de representações: os envolvimentos padronizados como heterossexual ou homossexual, os triângulos amorosos, os relacionamentos abertos e fechados, as uniões poligâmicas, sexo casual e tantas outras possibilidades que, muitas vezes, demandam novas nomenclaturas. Assim, a pesquisa tem como objetivo apresentar a figura geométrica da espiral como metáfora para representar as relações de desejo dos sujeitos ficcionais nas obras da literatura brasileira contemporânea com temáticas LGBTQIA+. Para entabular tal discussão, debruçamo-nos no conceito de espiral, a partir dos postulados apresentados na obra Os Elementos (2009), de Euclides, texto que funda a ciência matemática e os estudos sobre a geometria euclidiana, bem como a definição de espiral discutida por Chevalier e Gheerbrant no Diccionario de los Símbolos (1986), além da abordagem publicada por Pennick (1980), através da Geometria sagrada. Outrossim, utilizamos o conceito de desejo para compreender as relações estabelecidas pelas personagens, por meio da Sociologia das emoções, difundida por Koury (2009), que busca situar as emoções como categoria central para se pensar a inter-relação entre indivíduo e sociedade. Nesse sentido, para pensar a categoria do desejo, encontramos em Albuquerque Júnior (2014) a melhor forma de compreendê-lo, uma vez que o autor traz o desejo como algo que está nas demais coisas, no etc. Diante da análise empreendida, pudemos comprovar que, visualmente as espirais são figuras geométricas que metaforizam as relações de desejo representadas na literatura de ficção.

PALAVRAS-CHAVE: Espirais, Desejo, Literatura Brasileira.


 Giovanna de Araújo Leite



ESCRITAS UTÓPICAS, ESPAÇOS DISTÓPICOS NAS QUESTÕES DE GÊNERO, NO REALISMO MÁGICO DE GIOCONDA BELLI EM O PAÍS DAS MULHERES.

Giovanna de Araújo Leite (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Antonio de Pádua Dias da Silva.

A vingança das mulheres em torno da extinção dos homens na governança de um país, traduz-se na dor sofrida e ocasionada pelo sistema patriarcal da ditadura enfrentada na Nicarágua. Questiona-se a equidade de gêneros apenas sob a ótica do feminino como uma construção utópica, caracterizando-se como uma luta sexista e binarista; e/ou a equidade de gêneros, compreendendo a desconstrução e desnaturalização dos discursos em torno do masculino e do feminino. O país das mulheres impulsiona uma análise das escrituras utópicas e distópicas na diegese crítico- feminista, refletindo-se sobre a desconstrução de uma política vertical entre os gêneros e ao mesmo tempo sobre como uma luta feminista radical pode se tornar binarista. Suscita-se um olhar sobre um tropo recorrente nas distopias feministas: a própria regulação da linguagem constatada na metaficção historiográfica e no realismo mágico das escrituras de Belli, como dispositivos crítico-narrativos e ficcionais. Analisa-se as inscrições de gênero presentes nas performatividades das/dos personagens. Pretende-se compreender as dimensões críticas utópicas e distópicas do pensamento feminista interpretando as distopias no contexto histórico-social e cultural da anulação do masculino, além da metaficção historiográfica e o realismo mágico. Inclui-se Cavalcanti (2009); Moylan (2016); Levitas (2013); Bloch (2005); Silva (2008) sobre utopia e da distopia; Mignolo (2008); Anzaldúa (2005) sobre descolonialismo e patriarcado; Badinter (2005); Butler (2015) sobre as questões de gênero; Davis (2016) e Ribeiro (2019) sobre lugar de fala; Akotirene (2019), sobre interseccionalidade.

PALAVRAS-CHAVE: Utopia. Distopia. Estudos de Gênero. Crítica Literária Feminista. Realismo Mágico.


 Antonio Carlos Batista da Silva Neto



NARRATIVAS FOTOGRÁFICAS DO CORPO
NA ESCRITURA LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA

Antonio Carlos Batista da Silva Neto (mestrando PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientador: Prof. Dr. Wanderlan da Silva Alves

Ao anunciar que o literário é um espaço de alteridade, é o outro, Derrida (2014 [1992]) aponta para a configuração da literatura como uma potência e uma deriva, que permite que se relate qualquer assunto sem compromisso prévio e necessariamente político, ético ou jurídico. Por sua vez, Garramuño (2009), ao revisitar o conceito de escultura em um “campo expansivo” proposto por Rosalind Krauss (1979), apresenta uma perspectiva para o literário, na qual, por meio de seus transbordamentos estéticos, se intensifica a possibilidade de incorporar a experiência contemporânea às práticas literárias. Nesse cenário de transbordamentos e de possibilidades, surgem outros modos de escrever. Assim, passamos a ler a relação entre literatura e fotografia como constitutiva de uma narrativa própria: narrativas fotográficas, capazes de converter as múltiplas violências sofridas socialmente por corpos dissidentes, em especial o corpo da mulher e do homem gay, em escrituras latino-americanas recentes. Deste modo, propomos analisar os silenciamentos e a violência física e simbólica nos corpos de mulheres mortas na cidade de Santa Teresa, em “A parte dos crimes” – quarta parte do romance 2666, do escritor chileno Roberto Bolaño; assim como o estigma e a violência ligados à homossexualidade, ao HIV e à AIDS em Cuba, nas 11 fotografias de homens gays que compõem a série fotográfica Diecisiete – projeto do cubano Eduardo Rawdríguez. Para tal, recorremos aos estudos de Sontag ([1983]), Brizuela (2014) e Butler (2015) à respeito do fotográfico, sua inserção e transbordamento na literatura; bem como, as discussões sobre a incorporação das experiências/vivências do presente à estética da literatura contemporânea mediante Ludmer (2007), Garramuño (2009), Cáceres, (2010), Derrida (2014 [1992]), entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Narrativas fotográficas. Corpo. América Latina. Roberto Bolaño. Eduardo Rawdríguez.


 Carolinne Taveira de Melo



A MARGEM DA MARGEM: LESBIANIDADES NA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Carolinne Taveira de Melo (mestranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientador: Prof. Dr. Wanderlan da Silva Alves

No intuito de problematizar as configurações dos sujeitos femininos lésbicos, nas narrativas brasileiras em prosa, realizamos uma pesquisa cujo objetivo era a obtenção de um mapeamento de personagens lésbicas na literatura brasileira, dos séculos XIX e XX. Foram catalogadas 42 obras, das quais destacamos, inicialmente, O Cortiço (1890), Histórias da Gente Alegre (1910), A Condessa Vésper (1902) e Dona Dolorosa: Anomalias Sexuaes (1922), a fim de discutir a questão a partir dos conceitos de gênero e sexualidade desenvolvidos por Judith Butler (2003), quando se refere à ideia de performatividade de gênero como uma questão relacionada às instituições e aos pertencimentos sociais, bem como as contribuições de Luiz Mott (1987), em seu estudo minucioso da história da mulher lésbica na sociedade brasileira, e, ainda, as discussões sobre o Naturalismo brasileiro, de Antonio Candido (1991), Alfredo Bosi (1994) e Araripe Jr. (2013), uma vez que as obras destacadas vinculam-se à época em que o sujeito é (des)caracterizado ou sofre um processo de (des)personalização que o associa ao âmbito animal. Ainda em estado de análise e desenvolvimento, continuaremos nossa discussão acerca de personagens lésbicos na literatura brasileira em prosa, a partir de leituras de obras que serão selecionadas, cujo período de publicação está entre 1926 a 1999. A pesquisa culmina com a discussão acerca dos contos “Vó, a senhora é lésbica?”, “As tias” e “Marília acorda”, presentes no livro Amora (2015), de Natália Borges Polesso, apontando para o corpo feminino envelhecido homoafetivo. Sendo a margem da margem, tais personagens, tais corpos, femininos, invisibilizados, encontraram e encontram espaços de (re)inscrição, na literatura brasileira em prosa.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura brasileira; Estudos de Gênero e Sexualidades; Lesbianidades.


 Ferdinando de Oliveira Figueiredo



NATUREZA E PODER EM JOGO: UM ESTUDO ECOCRÍTICO DO TOTALITARISMO CAPITALISTA NA TRILOGIA LITERÁRIA JOGOS VORAZES

Ferdinando de Oliveira Figueiredo (doutorando PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Sueli Meira Liebig

Este estudo corresponde a uma proposta de pesquisa da trilogia Jogos Vorazes (Jogos vorazes, Em chamas e A esperança, 2010-2011), da escritora norte-americana Suzanne Collins (1962-), a partir de um viés ecocrítico. O trabalho centra-se nas relações entre o homem e o meio ambiente, mediante o totalitarismo capitalista ilustrado pelo corpus em análise. Realizou-se uma investigação acerca do panorama crítico que se tem sobre a obra de Collins, e verificou-se que há uma insuficiência de pesquisas sobre essa sequela literária dentro de uma perspectiva ecocrítica. Portanto, entende-se a conjuntura distópica desses textos ficcionais como fator contribuinte para a problematização desta abordagem teórica e, por isso, buscou-se compreender o termo distopia com base nas obras de Booker (1994) Claeys (2017), Garrard (2004) e Williams (2011), dentre outros. Integra-se, para o resultado esperado, a ação humana como reflexo da era geológica do Antropoceno, fator que alienou a sociedade de seu ambiente natural e a levou a explorá-lo, em prol de uma visão de mundo que se respalda cada vez mais no homem. Surge, portanto, a necessidade de se rever o Antropoceno como uma ilustração das mudanças ambientais e sociais ocasionadas pela interferência humana, o que possibilita uma nova forma de pensar o dualismo humanidade/natureza como o promotor de discussões sobre os ideais capitalistas na definição de classes, do poder e, principalmente, na percepção do meio ambiente como um mero objeto de apropriação exclusiva do homem (GARRARD, 2004). Logo, pontualidades como o regime ditatorial, a representação dos animais e dos ecossistemas criados nesses espaços e o protagonismo humano frente aos problemas econômicos e sociais gerados pelo poder capitalista serão os elementos constitutivos da análise proposta, adequando-se a elas as proposições de Buell (2005), Fremaux (2019), Moore (2016), Phillips (2003), etc., para a abordagem teórica da proposta de análise da narrativa de Collins.

PALAVRAS-CHAVE: Antropoceno. Capitalismo. Distopia. Ecocrítica. Natureza.


 Clara Mayara de Almeida Vasconcelos



CORAÇÃO DAS TREVAS E O MUNDO SE DESPEDAÇA: O COLONIALISMO EM PERSPECTIVA

Clara Mayara de Almeida Vasconcelos (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientadora: Profa. Dra. Sueli Meira Liebig

A plurifuncionalidade que a literatura possui a partir da sua relação com a vida em sociedade, especialmente no que concerne à sua atribuição pragmática, permite que o leitor compreenda as manifestações ideológicas que estão presentes no texto, sejam elas intencionais ou não, como produto do inconsciente positivo. Para além da funcionalidade estética ou lúdica, o papel cognitivo e pragmático que as obras literárias oferecem desvela discursos subjacentes presentes nos textos, fato que faz as obras serem relidas a partir de um viés diferente do que a tradição se propunha a fazer. Dessa forma, esta pesquisa se propõe a analisar, de forma comparatista, as obras Coração das trevas, de Joseph Conrad, e O mundo se despedaça, de Chinua Achebe, a partir da crítica que os dois textos fazem ao colonialismo e ao imperialismo que serve como base para compreender como o discurso colonialista ainda reverbera em ambas as obras; em especial na de Achebe que se apresenta como uma metacrítica da novela conradiana, ao mesmo tempo em que permanece no mesmo paralelismo da obra criticada. A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa é de cunho bibliográfico e documental, por meio de uma análise comparativa analítica. Para tanto, utilizaram-se as contribuições de Bhabha (2007), Bonnicci (2004), Chauí (2005), Clifford (1998), Fanon (2005; 2008), Delgado (2013), Halliday (1999), Huntington (1994), Rocha (1998), Said (1995; 2006; 2003a; 2003b), Silva (2005) e Temperley (1981). Sendo assim, pode-se concluir que a crítica que Achebe faz à obra de Conrad não consegue se sustentar em vários momentos da narrativa, visto que não considera o caráter irônico de Coração das trevas, podendo-se perceber que o inconsciente positivo do saber, conforme formulado por Foucault (1994), é refletido tanto na obra de Conrad como na de Achebe, mesmo que busquem denunciar os crimes perpetrados pela política imperialista.

PALAVRAS-CHAVE: Imperialismo, Colonialismo, Teoria e crítica pós-coloniais, Metacrítica.


 André Cervinskis



MITO, PERDORMANCE E CONTEMPORANEIDADE: PERSONAGENS MÍTICO-PERFORMÁTICAS DE LUCILA NOGUEIRA

André Cervinskis (doutorando PPGLI/UEPB-CAPES/FAPESP)

Lucila Nogueira (Rio de Janeiro, 30 de março de 1950) é uma escritora brasileira, de origem luso-galega, com vinte e três livros de poesia publicados e cinco de ensaio, além de muitos artigos em revistas impressas e online. Dona de uma poética singular, com forte personalidade feminina e dialogando com mitos e culturas de diversos lugares do mundo (França, Espanha, Portugal, Inglaterra, países escandinavos, México, América do Sul etc.), Lucila Nogueira é um dos grandes nomes da nossa literatura nacional, reconhecida através diversos de convites para eventos internacionais nos mais recônditos lugares (Houston, Macau, Medellín, Havana), objeto de artigos, livros (CERVINSKIS, 2008) e uma dissertação acadêmica (HOLFFMAN. 2007). Defendemos que a autora teve uma fase mítico-histórica, que vai de Ilaiana (1997) até Imilce (1999). A partir de 2000, assumirá uma personalidade contemporânea, com arroubos performáticos, inclusive sob a perspectiva da emancipação feminina. A partir de 2002, com Refletores (2004), lança-se à empreitada de mudar o rumo de sua poesia, ao abraçar características pós-modernas, afastando-se da perspectiva histórico-mitológica de seus primeiros livros. Punk e intercultural (Estocolmo, 2004; Poesia em Houston, 2013), Nogueira cria personagens que encarnam estéticas pós-modernas, como a camp (Refletores), a niilista/tediosa (Desespero blue) e a provinciana/casta, como em Casta Maladiva (2009). Todas essas abordagens e fenômenos aqui apresentados necessitam de olhares críticos especializados, despojados de preconceitos acadêmicos, para serem interpretados com respeito e rigor teóricos, colaborando para a compreensão dessa complexa literária realidade na qual estamos imersos. Desenvolveremos a análise dessas personagens performáticas/pós nessa comunicação, resultado do capítulo 2 de nossa tese sobre Mito, performance e contemporaneidade; a poesia de Lucila Nogueira, ainda em fase de elaboração.

PALAVRAS-CHAVE: Lucila Nogueira; poesia contemporânea; personagens transgressoras

Mesa Discente

Dia 12/03/2020 – 13h às 15h30

 Abdias Correia de Cantalice



A LITERATURA PRODUZIDA NAS PRISÕES E NOS HOSPÍCIOS COMO PRODUÇÃO DE SINGULARIDADES

Abdias Correia de Cantalice (doutorando PPGLI/UEPB)
Professor Dr. Luciano Barbosa Justino – Orientador

A presente pesquisa busca discutir a produção literária enquanto experienciação de uma potência que, mesmo produzida nos espaços marcados por confinamentos: hospícios, prisões, etc., trazem histórias dos sujeitos construtores da literatura como produção de singularidade, podendo, inclusive, não se dizer, pois, como lembra Agamben, uma experiência de potência só é possível se a potência for uma potência do não, de “poder não ser escrita”. A potência como escrita de si, ou mesmo, como não escrita, realizadas nos espaços de confinamentos, tende a se dizer, não no interior, (este produtor de subjetividade) mas no exterior, no espaço entre as subjetividades e seus foras, seguindo a linha observada por Tatiana Salem Levy, a experiência literária constrói o fora, “ela é o próprio fora” e o seu espaço de produção, ainda é um espaço do não, pois, como lembra Blanchot, a literatura “não está além do mundo, mas também não é o mundo” são os foras, e nesse fora se produz as singularidades. Nossa tese se estrutura num primeiro capítulo em que me proponho a analisar, numa perspectiva literária, a questão do aprisionamento, seja no hospício, seja na prisão, dialogando com Foucault sobre loucura e prisão além de Erving Goffman que aborda, numa visão psicanalítica, os espaços reservados à loucura. Num segundo momento, abordaremos como essas produções apontam para o fora, não o fora do espaço de produção, mas o fora da própria escrita, enquanto uma potência do escritor, produzindo, através da literatura, as singularidades nesses espaços de controle. Para esse corpus da pesquisa em torno da loucura e seus foras, partiremos de Lima Barreto, com seu “Diário do hospício e cemitério dos vivos”, passando por Maura Lopes Cansado com “Hospício é Deus” e finalizando com uma obra contemporânea “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome” de Stela do Patrocínio, numa perspectiva em que possa discutir a loucura em si, como produtora de literatura a partir de seus foras, tendo uma base teórica em Pelbart. Dando sequência à pesquisa desenvolvida no Mestrado, traremos, no terceiro capítulo, o estudo em torno da prisão. Neste caso, será discutido o conceito de fora e as produções de singularidades a partir da literatura de Graciliano Ramos em sua obra “Memórias do Cárcere” num possível diálogo com a contemporaneidade que têm, como espaço de criação, a cadeia. Nesse caso discutiremos pobreza e a potência do preso na obra de Luiz Alberto Mendes, além de rediscutir o conceito do fora na voz subalterna da prisão.


 Karina Guedes dos Santos



UM CRIME DELICADO, CRÍTICA LITERÁRIA E CRISE DA REPRESENTAÇÃO

Karina Guedes dos Santos (mestranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientador: Prof. Dr. Luciano Barbosa Justino

A nossa pesquisa se propõe um estudo do premiado romance Um crime delicado (1997) de Sérgio Sant’Anna. Um crime delicado é a história de um estupro, o estupro da “singular” Inês, que tivera uma perna amputada. O enredo relata um crítico de teatro, Antônio Martins, que após ser levado ao banco dos réus sob a acusação de estupro, começa a escrever para dar voz a sua memória fragmentada pelo alcoolismo, enquanto relata sua vida e trajetória ao analisar as peças teatrais com que trabalha. A metodologia consistirá em: 1, analisar uma ética da crítica, a fortuna crítica e a crítica do próprio personagem, o narrador, a medida em que tal episódio – o crime – vai alterando cada vez mais sua atividade crítica, o modo como julga e como avalia as obras. Como também, analisar a relação da literatura com a arte e a ética, em que vislumbramos a ética da literatura e a da arte através da alteridade da personagem feminina de Inês, do “corpo abjeto” e sua fragilidade. 2, estudar a narrativa e seu desenvolvimento no romance, mais precisamente, como é estabelecido o trabalho da memória por parte deste crítico, devido à obra estar entre as fronteiras dos gêneros relato autobiográfico, narrativa e literatura de testemunho. 3, analisar o diálogo na intermidiática entre narrativa, teatro e pintura presentes na obra. Para tanto, nossa base teórico-crítica será pautada em Diana Klinger (2014), Adauto Novaes (2007) Rolland Barthes (2007), Walter Benjamin (1994), Paul Ricouer (1994) e Seligmann-Silva (2013).

PALAVRAS CHAVE: Narrativa, Crítica Literária, Memória.


 Silvanna Kelly Gomes de Oliveira



TRABALHO IMATERIAL E PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE EM MARIA JOSÉ SILVEIRA

Silvanna Kelly Gomes de Oliveira (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Luciano Barbosa Justino

A produção literária de Maria José Silveira, representada pelas obras A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas (2002), Guerra no coração do cerrado (2006) e Pauliceia de mil dentes (2012), tem se apresentado como rasura na literatura contemporânea, uma vez que lança mão de uma gama de personagens que produzem subjetividades tanto no plano da linguagem, quanto no plano das abstrações e afetos, sobretudo, no que se refere às personagens mulheres. Por outro lado, é comum encontrar modos de ler repetitivos e alheios às novas demandas da literatura contemporânea, vertendo pela unicidade narcísica. Por essa razão, as singularidades presentes nos encontros dos personagens passam ao largo dessa crítica identitária, cuja sujeição social – construção de sujeitos individuados que se fixam em uma identidade – e servidão maquínica – desmonte do sujeito individuado e suas representações ou processo de dessubjetivação – (LAZZARATO, 2014) direcionam seus métodos de análise. O resultado disso consiste no apagamento dos personagens secundários (JUSTINO, 2017), repletos de trabalho imaterial (LAZZARATO, 2014) – produção de subjetividade. Assim, o objetivo geral da tese é apontar o trabalho imaterial dos personagens secundários, com enfoque nas personagens mulheres e no debate de gênero (HOOKS, 2019); (RIBEIRO, 2018); (PRECIADO, 2014), na obra de Maria José Silveira. Quanto aos objetivos específicos, pretende-se lançar uma metacrítica que problematize o trabalho imaterial; apresentar como a sujeição individual e a servidão maquínica direcionam de modo predominante a leitura das obras literárias; analisar como as narrativas da autora abrem margem para a quebra dos estigmas identitários em relação aos personagens secundários mulheres. Assim, em um primeiro capítulo, pretende-se abordar sobre trabalho imaterial e crítica literária; em um segundo capítulo, discorrer sobre a produção de subjetividade dos personagens secundários; e em um terceiro capítulo, tecer uma leitura crítica sobre a construção identitária das mulheres da obra de Maria José Silveira.

PALAVRAS-CHAVE: Crítica literária, Trabalho imaterial, Gênero e identidade.


 Tatiane Pereira Fernandes



TESSITURAS DO CORPO ENVELHECIDO NA LITERATURA BRASILEIRA

Tatiane Pereira Fernandes (mestranda PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Luciano Barbosa Justino

A temática do envelhecimento feminino atravessa três gerações em nossa pesquisa, por meio do enfoque analítico e crítico respaldado para pensar o lugar da mulher em detrimento da degradação do seu corpo em processo de envelhecer. Assim, focalizamos nas escrituras de autoria feminina no período compreendido entre 1980 a 2018, por meio da realização do mapeamento em desenvolvimento em que serão investigadas as configurações dos perfis femininos na prosa brasileira. Posto isto, especifica-se verificar: A representação categorizada do corpo envelhecido por meio das personagens de como interiorizam e lidam com seu próprio corpóreo; discussões voltadas para a relação com o tempo e a história, perda de identidade, as relações interpessoais, a sexualidade feminina, os padrões sociais e estéticos que estigmatizam à mulher na velhice. Para tanto, nossa pesquisa viabiliza uma maior compreensão acerca do envelhecimento para ressignificar às práticas culturais imbricadas na depreciação e estratificação do feminino. Sendo assim, pontuamos que o envelhecer tornou-se de acordo Barbosa (2003) sinônimo de improdutividade e de inutilidade à margem da sexualidade e sensualidade; bem como a desvalorização e não aceitação que estão associadas a uma proporção anterior que impôs uma imagem da mulher jovem e bela. Nesse sentido, a relevância de investigar a temática está imbricada no espaço de discussão que atualmente destaca-se na literatura brasileira a representação da figura feminina envelhecida. Por fim, nossa pesquisa, está ancorada nos estudos de Dalcastagné (2012), Foucault (2016), Ecléa Bosi (2010), Beauvoir (1990); dentre outros. Portanto, propomos ampliar a discussão sobre a categoria de corpo envelhecido proposto por Xavier (2007).

PALAVRAS-CHAVE: Corpo feminino, Envelhecimento, Representação.


 Patrícia Valéria Vieira da Costa



NARRATIVAS DA CRISE DO PATRIARCADO: QUANDO A EXPRESSÃO REGIONAL IMPULSIONA O TRÁGICO

Patrícia Valéria Vieira da Costa (doutoranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Orientador: Prof. Dr. Eli Brandão da Silva

Este projeto de tese objetiva compreender como a região impulsiona o trágico em narrativas contemporâneas que recriam o patriarcado em crise. Para tanto, pretende-se entender a região enquanto um espaço social que condiciona subjetivamente e simbolicamente a condição humana de maneira paradoxal, principalmente com ênfase nas personagens femininas das obras selecionadas. Nesse sentido, propõe-se refletir a condição trágica enquanto inerente à compreensão histórica, social e memorialística de determinadas culturas, bem como, de maneira ampla, com as narrativas que ainda recriam o patriarcado em crise são compreendidas ou não pela crítica literária atual, principalmente em relação aos estudos sobre a regionalidade. Considera-se que a temática é recorrente não em uma ou duas, mas em uma quantidade significativa de narrativas produzidas no Nordeste no contexto da contemporaneidade. Selecionou-se como objeto dessa pesquisa um conjunto de obras, a partir do qual será escolhido o corpus a ser analisado interdiscursivamente, as seguintes narrativas: Cartilha do Silêncio (1997), de Francisco José Dantas; O Anjo do Quarto dia (2013), de Gilvan Lemos; Liturgia do fim (2016), de Marília Arnaud; Vasto Mundo (2015), de Maria Valéria Rezende; e Faca (2009), de Ronaldo Correia de Brito. A escolha dessas obras se justifica pelo fato das mesmas comportarem a problematização referida, já que essas, além de estarem embasadas em solo rural, trazem em sua teia narrativa a recriação do patriarcado em crise, com personagens femininas envoltas com a condição do trágico. O referencial teórico é formado pela conjugação de contributos de pesquisa em torno do trágico e da regionalidade, contemplando a obra de autores como Dalcastagnè (2012), Chiappinni (2013), Eagleton (2013), Sarrazac (2013) e Williams (2002).

PALAVRAS-CHAVE: Crise do patriarcado. Trágico. Personagens femininas. Regionalidade.


 Ayanne Larissa Almeida de Souza



A NATUREZA COMO IMAGEM DO PENSAMENTO EM ANTERO DE QUENTAL

Ayanne Larissa Almeida de Souza (doutoranda PPGLI/UEPB)
Orientador: Prof. Dr. Eli Brandão da Silva

O presente trabalho estuda a obra de Antero de Quental, perspectivando sua poesia a partir da noção de estrutura de sentimento trágico, com aporte da filosofia dialética hegeliana, compreendendo haver na poética do autor um movimento de tragicidade. A problemática em questão é a presença de uma dialética que se apresenta como uma tensão entre expressão de pensamento e forma estética e que se traduz em dilema do poeta com a linguagem. Nosso objetivo é analisar a poesia anteriana com base semiótica, buscando interpretar metaforicamente as imagens poéticas criadas por Antero como tradução dos dados da realidade que chegam à consciência em pensamento, compreendendo essa dialética como expressão do dilema poeta/linguagem. Consideramos Antero como um filósofo, um poeta da imanência, na esteira de Gilles Deleuzes e Félix Guattari, enquanto um construtivismo que se desloca em dois planos: criar conceitos e traçar planos. Nesse sentido, compreendemos a poesia de Antero como uma tradução do real para o pensamento, ou seja, uma conversão dos dados que chegam através dos sentidos em pensamento, a qual manifesta o mundo por meio da poesia, numa espécie de evidência da alma. Nosso arcabouço teórico-metodológico se constrói por meio da conjugação dos aportes de Lúcia Santaella e Julio Plaza, no que diz respeito à semiótica; o conceito de estrutura de sentimento de Raymond Williams, assim como a ideia de Trágico em Williams e a filosofia do trágico de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, da qual Antero extrai suas concepções intelectuais e de Karl Wilhelm Ferdinand Solger.

PALAVRAS-CHAVE: Trágico. Dialética. Plano de Imanência. Natureza.Antero de Quental.

Mesa de Pós-Doutorandos

Dia 12/03/2020 – 16h às 18h

 Nathassia Guedes



LITERATURAS DA AMAZÔNIA: A TERRA E A REPRESA

Nathassia Guedes (pós-doutoranda PPGLI/UEPB-CAPES)
Supervisora: Profa. Dra. Rosilda Alves

Este trabalho tem como objetivo analisar as narrativas Terra de Icamiaba (1934) e Represa (1942), moldadas com base em memórias e deslocamentos, de grupos marginalizados, atrelados a um discurso de construção da Amazônia, a partir do Ciclo da borracha, bem como da emancipação amazônica, no final da década de 1980. O Ciclo da borracha permitiu uma maior visão do norte do país, antes desconhecido, fazendo com que os novos integrantes dessa região – empresários ou somente exploradores – levassem novidades culturais e sociais impulsionando o desenvolvimento de várias cidades nortistas, a exemplo de Manaus e Belém (a Paris n´América), capitais. Escritas no século XIX e alinhadas ao mesmo contexto histórico, as obras de Abguar Bastos e Océlio de Medeiros, narram ainda, os deslocamentos de outras culturas pelo território brasileiro também mergulhados nas texturas das movências, amplia os olhares do contato para a presença de outros atores culturais como sírios, judeus e libaneses. Colocados em relação, os dois romances se voltam para o universo da construção do espaço, do testemunho, numa perspectiva identitária relacionada aos costumes, tradições e contextualização das transformações sociais e políticas no espaço em destaque. Unidas no locus panamazônico, as obras enfocam, distintamente, a partir de grupos marginalizados, o Ciclo da borracha, cujo contexto de exploração contribuiu para enriquecer – ou tornar mais miseráveis – os trabalhadores locais, os estrangeiros ou magnatas. Acostados à perspectiva que os romances escolhidos para análise são construídos a partir da experiência de exílio e deslocamento intentamos refletir sobre a representação literária desses grupos, cuja identidade coletiva se reveste de sentido negativo, ora pela cultura dominante, ora pela orientação social coletiva.

PALAVRAS-CHAVE: Memória, Deslocamentos, Representação, Grupos marginalizados


 André Luís Gomes de Jesus



DAS VOZES EX-CÊNTRICAS: CULTURA, IDENTIDADE E HISTÓRIA NO ROMANCE BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO

André Luís Gomes de Jesus (pós-doutorando PPGLI/UEPB-PNPD/CAPES)
Supervisor de pesquisa: Prof. Dr. Luciano Justino

O presente trabalho tem por objetivo analisar, a partir de um conjunto de narrativas produzidas entre os anos 1990 e os anos 2010, as inflexões e inovações temáticas e estético-formais ocorridas no romance brasileiro. A produção romanesca brasileira contemporânea é marcada por uma diversidade temático-formal que permite a identificação de alguns eixos de produção. Entre esses inúmeros eixos nos interessa aquele composto por romances que, embora pareçam ter sido escritos em notação tradicional, apresentando uma aparente linearidade, dialogam de modo difuso com as inovações advindas do Modernismo, tais como: o embaralhamento entre os discursos ficcional e histórico, a utilização da linguagem fragmentária, a presença da circularidade narrativa e a dissimulação do pacto escritural por meio de procedimentos que fazem estes textos dialogarem com o relato, com a carta, com o diário, encontrados pelo autor graças a “felizes coincidências”. Além desses procedimentos, podemos ainda analisar esses romances a partir das noções de narração como produção de sentido para vida humana (RICOUER, 1983; 1984; 1985), da representação da voz ex-cêntrica como relativização do discurso centrado nos interesses burgueses-patriarcais (HUTCHEON, 1991), da construção anacrônica-alegórica que ocorre no encontro entre as imagens históricas mobilizadas por estes romances e o presente brutal, constituindo, desse modo, a noção de história a contrapelo (BENJAMIN, 2012; DIDI-HÜBERMAN, 2019), da ideia de brutalidade como elemento de formação identitária brasileira (HALL, 2006). Ao analisarmos os romances Desmundo (1996), de Ana Miranda, Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves e Carta à rainha louca (2019), de Maria Valéria Rezende, trabalhamos com a hipótese de que esses textos ficcionais, embora relativizem o experimentalismo, assumem, ainda assim, um caráter inovador no que diz respeito a formas, procedimentos, temas e linguagens, constituindo-se como documentos que se constroem como representação da resistência e da potência de diversidade nacional.

PALAVRAS-CHAVE: alteridades; História; memória; romance brasileiro; vozes ex-cêntricas.